Porsche
Fiquei parado por um bom tempo pensando nas minhas decisões de vida antes de dirigir direto para os portões dourados da casa dos Terapanyakun. O guarda na frente pegou meu nome e fez um gesto para que eu estacionasse ao lado. Eu apenas suspirei enquanto olhava para os homens de terno preto espalhados pela casa.
Por que eles precisam de tantos homens trabalhando para eles? Qual é o negócio que eles fazem para precisar de tanta segurança o tempo todo?
Assim que entrei no cômodo, vários olhos não amigáveis me receberam. Um grupo de homens me encaravam e outros ficaram indiferentes, eu apenas os encarei de volta e andei pela multidão.
— Oh, você já está aqui. Venha comigo. — No momento em que cheguei perto da porta, P'Chan me cumprimentou, segurando documentos em uma mão e um copo de café na outra. Nós passamos por alguns vários cômodos e isso apenas me fez perceber que eu nunca vou me acostumar com esse lugar, a atmosfera aqui é muito silenciosa, pesada e assustadora.
— Entre. — segui P'Chan para um cômodo, que pelo o que posso ver, é a sala de reuniões. Projetores, mesas e cadeiras, estava tudo alinhado de modo ordenado.
— Ei, aprenda a cumprimentar seus superiores. — disse um cara, pegando caixas e as colocando na mesa.
— Olá. — levantei minha mão casualmente, mas conseguia sentir a tensão no lugar.
— Ei, é verdade que você brigou com o Big ontem? — P'Chan perguntou.
— Ele que começou. — respondi.
— Por favor, não lute com nossos homens. Tente se misturar, Porsche. Não deixe as coisas difíceis para Khun Kinn. — Ouvir esse nome só estragou o meu humor, ele falou o nome daquela praga como se ele fosse um anjo vindo diretamente do céu. — Sente aqui primeiro. — P'Chan me mostrou um lugar para que eu me sentasse e eu fiz o que ele pediu. — Isso é uma arma e uma faca, toda vez que for sair com Khun Kinn, leve as duas com você. Espera, você sabe usar uma arma? — P'Chan perguntou e eu assenti, além do Taekwondo, eu cresci brincando com armas. Isso seria fácil, igual tirar doce de criança. — Não esqueça que seu trabalho é proteger Khun Kinn, não importa o que for, você tem que manter ele seguro. — Ele levantou a caixa preta com a arma e a faca dentro e a deu para mim.
— E se eu atirar em alguém por acidente? Eu vou ser preso? — Ele me deu uma arma como se fosse um brinquedo. E se eu acidentalmente matar alguém? Seu Khun Kinn iria para cadeia no meu lugar?
— Tudo que acontece com as pessoas daqui está além da lei.
Você está claramente dizendo que Khun Korn comprou todos eles? Tudo? Qual é a profissão dessas pessoas para terem essa influência toda?
— Então, pelo menos, me diga de quem eu devo proteger Kinn.
— Todo mundo, qualquer um que tente machucar ele.
Nossa, isso foi…
— Aqueles que têm dívidas com ele, rivais e muitos outros. — Ele adicionou.
Ótimo, perfeito! Que dia maravilhoso para descobrir o inimigos que eu poderia enfrentar, me pergunto qual tipo de negócios essa casa tem. Em primeiro lugar eu estava apenas tentando salvar um cara inocente, mas agora eu estou enfrentando um monte de problemas por causa do histórico da família dele.
— A família comanda casinos, comércio ilegal de empréstimos e alguns outros negócios. — P'Chan parecia saber o que eu estava pensando, sem que eu precisasse perguntar.
Será que ele sabe ler mentes? Eu deveria xingar ele? Seria bem legal se ele fosse capaz de ouvir.
— Pare de olhar para o meu rosto e vá fazer o seu trabalho. Khun Kinn já deve ter voltado da faculdade, vá verificá-lo. — assenti com muita relutância, pegando minha arma e faca.
— Tá, qual é o quarto dele?
— Khun Kinn não é seu amigo, então pare de falar sobre ele tão casualmente. — Uma voz séria disse, me fazendo rolar os olhos para ele. Big você sabia que a escravidão já foi abolida a um tempo pelo rei da tailândia, Rama décimo?
— Então, onde ele está? — repeti a pergunta, tentando o meu melhor para não dizer o nome dele.
— Segundo andar, o quarto na extrema direita. — P'Chan disse.
— E se você tentar prejudicar Khun Kinn, você está morto! — O idiota me encarou com olhos afiados, em um tom de voz ameaçador.
Eu nunca fui tão ameaçado em um único dia. Pareço um cachorro na coleira, um movimento errado e eles vão comer o meu juízo. E o que tem de errado com a cara deles? Parecem um bando de zumbis, especialmente P'Chan, seu rosto é duro como se não tivesse emoções.
Fui para o segundo andar assim como P'Chan disse e dei de cara com um monte de guardas que me olharam esquisito. Fiz meu caminho para o quarto e lembrei, foi aqui que fui arrastado ontem.
Parei na frente do quarto e um cara sentado no sofá ao lado da porta falou comigo.
— Já estava na hora, Khun Kinn quer ver você. — O som de seu nome me fez ter arrepios, e o que me irrita mais é o quanto seu quarto é excessivamente vigiado.
Esse lugar é definitivamente uma empresa ilegal.
Ri já meio louco das ideias, estava quase entrando no quarto quando um homem me parou.
— Deixe as armas aqui. — revirei meus olhos como resposta e o ignorei.
— Não se preocupe, eu não vou fazer nada com ele. Eu vou levar a caixa comigo e deixar as armas dentro, feliz?
— Não, deixe elas aqui e não faça Khun Kinn esperar mais.
Respirei fundo deixando as armas com ele e voltei a entrar no quarto, assim que abri a porta as risadas que vinha de dentro pararam.
— Você não sabe bater? — Uma voz familiar disse, inclinei minha cabeça para o lado para olhar melhor e vi uma cena estranha que me fez rir um pouco. Era Kinn em um uniforme da faculdade, não esses ternos pretos que ele normalmente usa. Eu levei minha mão até a porta e deliberadamente bati.
— Aqui. Eu bati. — falei olhando para o grupo de estudantes que provavelmente são amigos de Kinn, eles me examinaram em silêncio e falaram com Kinn.
— Quem é? — Um deles perguntou.
— Meu novo guarda-costas. — Kinn respondeu e me olhou da cabeça aos pés.
— Que foi? — perguntei e ele cruzou os braços me dando um olhar esquisito.
— Ele é seu guarda-costas ou seu pai? — Um dos amigos dele falou, dando uma risadinha para mim.
Kinn não respondeu, apenas olhou com uma carranca para mim.
— Vá pegar nossa comida. — Ele disse e eu franzi a testa confuso. Comida? Que comida?
— Ele está confuso. — Seu amigo cochichou como se eu não pudesse escutar.
Ei, eu estou bem aqui na frente de vocês!
— Eu disse para nos trazer comida, agora vá. — Dessa vez era claramente um comando vindo dele.
Seu tom sombrio me deixou cheio de frustração, eu pareço a porra de uma empregada?!
— Não sou sua empregada! — gritei para ele, surpreendendo seus amigos.
— Uau, temos um lutador aqui. — Um deles disse.
— Porsche, não me faça repetir, desça e nos traga comida, agora! — Kinn disse, tentando o seu melhor para esconder sua raiva.
Mas eu apenas olhei para ele respirando fundo.
— Por que eu tenho que te trazer comida? Vai pegar você! — Eu o respondi.
— Porsche! — Ele levantou do sofá e segurou meu braço. Eu não me atrevi a chegar perto dele, mas o cuzão veio para cima de mim e me deu aquele mesmo olhar que vi naquele dia que a paciência dele se esgotou comigo. — Você não quer testar minha paciência, quer, Porsche? — Kinn disse entre os dentes, seus olhos estavam começando a ficar mais sombrios que o normal, eu rapidamente o empurrei pelo peito e me afastei de seu aperto.
— Eu entendi! — falei antes de sair do quarto. Eu realmente não suporto pessoas como ele, são todos uns mimadinhos.
Eu desci como ele disse, mas percebi que não faço a mínima ideia de onde a cozinha fica. O tamanho dessa casa está me tirando do sério!
Seus guardas apenas me davam olhares estranhos toda vez que eu passava por eles, então nem me dei ao trabalho de perguntar algo para eles.
Desci as escadas para dar uma olhada, mas acabei percebendo que estava andando em círculos.
— Pra onde você está tentando ir? — Um homem vestido de preto me parou e eu olhei para ele.
— Cozinha. — respondi.
— Vai naquela direção e vira à esquerda. — Ele apontou para a direção.
Assim que ouvi aquilo fui embora, sem nem mesmo agradecer ao homem. Eu não me importo, meu humor está horrível agora.
Andei pelo corredor e finalmente achei a cozinha, lá eu vi algumas empregadas fazendo seus deveres e uma delas se virou para me cumprimentar.
— Venha e pegue algo para comer. — Ela disse para mim com um sorriso caloroso.
— Eu preciso de um pouco de comida. — Eu disse, e ao perceber que a mulher na minha frente era bem mais velha, tentei ser educado.
— Você é um dos amiguinhos do Khun Kinn? — Ele humildemente me perguntou.
— N-não, eu sou… Eu sou o novo guarda-costas dele. — Eu quase disse o nome dele de novo, a mulher na minha frente pareceu confusa.
— Ah! O guarda-costas do senhor Kinn, mas por que você não trocou suas roupas? — Ela perguntou curiosa.
— Eu só vim aqui pegar comida. — suspirei não querendo responder sua pergunta.
— Espere um pouco, os amigos do Khun Kinn estão aqui? — Eu concordei e ela então me entregou uma bandeja com chá e alguns lanches. — Ah, esse prato é para Khun Tae, por favor, diga que a tia fez especialmente para ele. — Ela disse para mim e voltou ao trabalho.
Por que as empregadas não levam isso até eles? Por que eu que tenho que fazer isso? Pensei comigo mesmo enquanto andava com a bandeja nas mãos.
Eu deveria cuspir no chá? Mas seria uma perda de tempo, já que os homens de Kinn estão espalhados pela casa. Eu vou ter minha vingança, Kinn, você não perde por esperar.
— Abram a porta pra mim. — Eu disse me aproximando da porta, mas ninguém ao menos se incomodou em me ajudar, eu podia apenas ouvir as páginas das revistas que eles liam serem viradas. — Ei! — Eu disse outra vez, mas eles nem olharam para mim. Eu estava prestes a colocar a bandeja no chão e deixar minhas mãos livres, mas me pararam.
— O que você está fazendo?
— Abrindo a porta. — falei, com um sorriso falso na cara.
— E você vai colocar a comida do Khun Kinn no chão? Você é inacreditável. — Ele disse descrente.
Eu não vou só colocar no chão, vou pisar também! E cuspir quando tiver a chance!
Endireitei minha postura segurando a bandeja apropriadamente, o idiota me olhou frustrado e abriu a porta. Se ele tivesse feito isso antes, não precisaríamos ter esse tipo de conversa.
Entrei no quarto e os vi discutindo sobre relatórios. Andei até o meio do círculo e coloquei a bandeja de qualquer jeito na mesa de vidro, fazendo o chá derramar um pouco. Seus amigos rapidamente pegaram os livros e papéis, olhando para mim.
— Você tinha que fazer essa bagunça? — Um deles disse.
Bagunça? O chá nem saiu da bandeja.
— Porsche! — Kinn rosnou para mim e eu apenas olhei para ele, seus rosto estava começando a ficar raivoso.
— Deixe isso pra lá. — Um de seus amigos falou, colocando a mão em seu ombro. Kinn estava tentando suprimir a raiva e isso me fez sorrir de canto.
Estava de saída quando Kinn me parou.
— Quem disse que você podia ir? — Eu parei e me virei para ele.
— O quê?
— Eu quero café. — Ele disse, me fazendo respirar fundo, essa deve ser a milionésima vez que respiro fundo só hoje. Estava pronto para protestar, mas decidi deixar para lá e voltar à cozinha de novo.
— Para onde você vai? Não escutou o que eu disse?
— Tô indo pegar o café, quer mais alguma coisa?! — perguntei irritado.
— A máquina de café está bem ali. — Ele apontou para um canto do quarto onde a cafeteira ficava, gente rica realmente tem seu próprio modo de viver. Caminhei até a máquina retangular e a analisei, merda! Essa coisa é muito tecnológica para mim! — Eu quero um hot americano. — Ele disse.
Pare de pedir por um americano e me diga como mexer nesse troço primeiro!
— Urg, já está ficando tarde e eu vou ter problemas de novo. — murmurei baixinho.
Dei uma boa olhada na máquina apertando o botão de ligar e então o botão de "começar", fiquei olhando por um tempo, mas minha paciência estava chegando no limite.
Não vejo nenhum copo de café quente! Talvez eu devesse apertar outro botão.
Encarei a máquina vendo um botão vermelho escrito "quente" nele, eu apertei aquele botão para logo em seguida apertar outro que dizia "copo de café". A máquina nem se mexeu, então eu pensei que deveria deixar a água esquentar para depois apertar o botão do copo assim como uma chaleira normal.
Já tinha passado um minuto e eu pensei que deveria apenas deixar ferver, mas a máquina super tecnológica estava demorando demais, então fiquei vagando meus olhos pelo cômodo.
Era bem mobiliado e propriamente decorado, os tons usados eram uma combinação de preto e marrom, também tinha um lustre e uma mesa grande. Uma prateleira de livros na parede e um sofá preto no centro do cômodo. Algumas marcas sem graça e estúpidas de decoração e um cômodo com uma porta de vidro, que provavelmente tem o mesmo tamanho que esse, mas tinha uma cortina preta tampando tudo. O que era aquilo? O banheiro? Ou outro quarto? Um sorriso amargo foi desenhado nos meus lábios quando senti inveja crescendo em mim, mas então eu percebi que esse quarto é muito caro e brega.
Estava perdido em pensamentos quando um de seus amigos falou.
— Vocês estão sentindo cheiro de algo queimando? — Ele disse, e eu também notei isso.
— Cheira a aço inox. — olhei para eles tentando descobrir de onde o cheiro vinha.
— Porsche! — Kinn pulou do sofá, olhando para mim assustado.
— O quê?! — respondi rápido.
— A máquina de café está pegando fogo! Porra! — Virei minha cabeça na direção da cafeteira e ela estava cercada por uma nuvem de fumaça.
Em um primeiro momento, pensei que fosse óleo queimado, mas agora estavam saindo faíscas dali. Eu apenas fiquei parado, olhando para a pobre máquina.
— O que caralho você está fazendo?! Desliga a porra da tomada! — Kinn gritou, correndo até a porta para chamar seus homens e desligar a máquina, coisa que eu falhei em fazer.
— Cadê?! — perguntei em pânico, tentando achar a tomada. Os amigos dele correram para fora do quarto, pedindo por ajuda.
Cadê a porra do interruptor?! Como eu vou conseguir achar com esse tanto de fumaça?!
— Cof! Cof!
— Time, procure pelo interruptor! Assim que achar desligue! — Kinn disse para um dos amigos.
Que porra você está sugerindo? É claro que eu não conseguiria achar com toda essa fumaça no meu rosto e me sufocando.
— Onde está?
— Merda, use a porra dos olhos! — A voz de Kinn ecoou entre a fumaça junto ao som de extintores.
— Khun Kinn, você está bem? — As vozes do lado de fora vieram em uníssono.
— A energia já foi cortada, Khun Kinn. — Outra voz disse. Kinn ficou mais aliviado e seus homens o ajudaram a voltar para o sofá, enquanto a mim, fiquei no mesmo lugar tentando entender o que tinha acontecido.
— O que foi, Kinn? — Seus amigos tinham voltado e perguntaram para ele. Outros guarda-costas entraram abrindo a janela e outros abriram algumas portas para a fumaça sair.
— O que você está fazendo parado aí? Vem ajudar! — Um dos idiotas gritou para mim.
Ele não pode ver que estou em estado de choque? Porra, essa gente vai me enlouquecer!
Tomei a liberdade de ajudá-los, alguns tentavam fazer a fumaça se desfazer e outros foram olhar a máquina queimada, assim que a viram tiraram da tomada e a levaram embora.
Se ele mesmo tivesse feito, não teríamos tido esse tipo de problema.
Assim que a situação voltou ao normal, Kinn me chamou para que ficasse na frente dele, me encarando como se eu fosse uma comida que ele queria devorar. Ele mandou seus homens levarem seus amigos para fora, deixando apenas eu e ele no quarto.
— Você está tentando queimar minha casa? — Ele disse com uma voz severa, e olhos furiosos.
— Não era minha intenção. — respondi baixo.
— Por sorte, nós temos um sistema que corta a energia, caso contrário a casa já deveria estar em cinzas! — Um de seus homens disse para mim.
Por Deus! Você tem que ser tão cruel?
— Não tinha água na máquina, como você não percebeu isso? — Kinn apertou os olhos me encarando.
— Eu não sei mexer em uma cafeteira. — falei ainda em tom baixo.
— Você não sabe usar? Então por que não me disse? — Kinn falou, e eu apenas revirei meus olhos em resposta.
Como eu saberia? Eu pensei que fosse uma chaleira normal!
Nós continuamos nossa competição de quem pisca primeiro, até que eu desisti. Estou muito cansado para discutir.
Por que meu primeiro dia tem que ser tão cansativo?
— Se você não sabe, pergunte. Pare de agir como se soubesse de tudo, é irritante.
— Eu sou um guarda-costas, você não pode esperar que eu faça esses tipos de coisa. Se quiser que alguém faça isso para você, contrate um barista! — falei frustrado.
— Porsche! — Kinn bateu forte na mesa de vidro, ecoando pelo cômodo. O som foi tão alto que até seus homens se assustaram. — Você esqueceu quem sou eu? E quem é você? Você deveria saber qual é o seu lugar aqui, Porsche! — Ele disse, apontando o dedo para mim. — Essa é última vez que vou te avisar. Se você me desobedecer outra vez, eu vou te fazer sofrer. — A última frase que ele falou foi como um tapa na minha cara, me fazendo ficar ainda mais possesso do que já estou, suas palavras egoístas realmente me pegaram.
Meus pensamentos foram dispersos pelo som alto de alguém batendo na porta, os homens de preto abriram e uma figura magra entrou.
— Khun Pheam chegou. — Alguém disse, e a pessoa que entrou foi para o lado de Kinn.
— Vocês podem ir agora. — Kinn ordenou.
Já estava na hora! Eu queria sair daquele lugar o mais rápido que podia, mas assim que coloquei o pé para fora alguém me parou.
— Espere, Porsche! — Um dos homens falou comigo, jogando as chaves de um carro na minha direção. — Você sabe dirigir um carro, certo? — Ele me perguntou.
O que ele acha que eu sou? É óbvio que eu sei!
— Exatamente às duas horas, leve Khun Pheam pra casa. — Eu apenas o encarei desacreditado, por que eu deveria levar ele para casa? E as duas da manhã? Esse povo não tem horário para dormir?
— Pra onde eu tenho que levar ele? — O homem pegou o celular, digitou algumas palavras e deu para mim. De primeira eu fiquei confuso, mas era o endereço para onde eu deveria ir, olhei para o endereço no celular e devolvi para ele.
Não seria mais fácil ter me dito? Mas lembrei que esses imbecis não querem falar comigo. Apenas esperem, eu vou comer vocês na porrada.
Olhei para o relógio e vi que ainda tinha tempo livre, então fiquei andando pelo caminho mal iluminado tentando achar um lugar para fumar, achando um jardim e indo até lá.
Assim que cheguei percebi que já tinha alguém ali fumando. — Ei! — O homem me cumprimentou, e eu o reconheci. Foi ele que me ajudou a achar a cozinha, eu apenas acenei com a cabeça e fui para o canto. — É seu primeiro dia? — Ele perguntou com um sorriso, provavelmente o primeiro sorriso caloroso que recebi nesta casa.
— Sim. — respondi, gentilmente.
— Eu sou Pete.
— Porsche.
— Nome legal, mas qual é a da cara emburrada? — Ele brincou, acendendo o cigarro.
— Estou entediado. — respondi.
— Como pode ficar entediado? Escutei que você trabalha para Khun Kinn. — Ele disse e a fumaça saiu de sua boca.
— Você está brincando comigo?
— Deixa eu te dizer, trabalhar para Khun Kinn é a melhor coisa dessa casa. — Ele disse com entusiasmo.
— Você só pode estar brincando. — Eu disse, com cara de desacreditado.
— Hahaha, eu estou falando a verdade. Você é muito sortudo.
— Eu estou vendo. — falei cheio de sarcasmo.
— Sabe do que mais? Eu tenho inveja de você. — Ele disse, suspirando.
— Como assim? — perguntei.
— Os filhos de Khun Korn são bem diferentes, alguns são bons e outros são completamente fora da casinha, mas se você me perguntar, Kuhn Kinn tem uma atitude melhor que o irmão mais novo dele, Kim.
— Kim?
— Khun Kim, o filho mais novo. Ah, é, esqueci que é o seu primeiro dia aqui. E sim, Khun Kim, ele é um garoto perdido. — Ele brincou.
— Um garoto perdido? Como?
— Khun Kim tem um hábito que deixa os guarda-costas dele loucos, ele não gosta de ser seguido ou de ficar em casa, e isso deixa Anon completamente louco, P'Non é o líder dos guarda-costas do Khun Kim.
P'Non? Quantos nomes eu vou ter que lembrar? Deixa pra lá, saber o nome de Pete é o suficiente.
— Você é muito sortudo por ter ficado com Khun Kinn, todo mundo quer ficar com ele.
— História legal.
— Eu notei que você não usa o terno preto. — Ele disse.
— Sou muito preguiçoso para trocar de roupa. — respondi, cansado.
— Bom pra você, se fosse eu, provavelmente seria repreendido até ficar surdo.
O som do walkie talkie de Pete tocou e ele atendeu imediatamente.
— Sim?
"Alô? Pete? Cadê você? Se apresse e venha!" A pessoa do outro lado disse, Pete jogou o cigarro no chão e apagou com o sapato.
— Você tem coisas para fazer? — perguntei a ele.
— Khun Tankhun vem me ligando o dia inteiro, me pedindo para comprar isso e aquilo, pelo amor de Deus! Eu quero descansar! Tenho que ir agora, Porsche, ainda tenho que assistir algumas séries. — Ele respirou fundo e foi embora.
Fiquei confuso com suas palavras, mas não tive tempo para perguntar, porque ele já tinha saído, mas estou agradecido que ainda existam pessoas boas nessa casa.
Ele parece ter minha idade e uma personalidade calorosa. Ah, esqueci de perguntar a ele onde fica o banheiro, eu tenho estado em pé o dia todo e esqueci de mijar.
Porra, aqui vamos nós de novo.
Eu estava prestes a procurar por um banheiro quando alguém me chamou.
— Porsche, Khun Kinn está chamando você. — O idiota disse, com um tom de voz frio, ele realmente sabe como me chamar, hein? Que chatisse, seus homens são ainda piores.
Caminhei pelo hall ainda procurando o banheiro. Estou andando para cima e para baixo o dia todo e ninguém perguntou se eu já comi ou não, essas pessoas não dão a mínima para mim.
Quando senti que não poderia segurar mais, corri para o lado da casa que estava cheio de árvores o suficiente para me cobrir e abaixei minhas calças, eu também notei um lago, provavelmente era o canal deles, me posicionei na frente do lago e me aliviei.
As vantagens de ser homem. Você não tem problemas em achar um banheiro já que pode fazer isso em qualquer lugar. Depois de terminar, subi as calças e entrei na casa.
Eu já estava na frente do quarto de Kinn quando um de seus homens me parou. — Não entre ainda. — Ele disse, eu olhei em sua direção e ele me entregou alguns papéis.
— O que é isso?
— Organize os papéis de acordo com o conteúdo e cheque os horários do Khun Kinn. De agora em diante, você terá que checar eles e organizá-los, e se tiver alguma coisa pra escrever, você tem que ajudar Khun Kinn.
Eu estava boquiaberto com tudo que ele me disse.
— E por que caralhos eu tenho que fazer isso?
— Você é o líder dos guardas aqui, pare de reclamar! — O bastardo disse para mim antes de ir descansar no sofá.
Olhei para os papéis em minhas mãos frustrado, desde que entrei nesta casa não fiz nada do que um guarda-costas deveria fazer, tudo isso são coisas de escritório.
Porra! Eu não sei mais!
Peguei os papéis e fui até o sofá, mas assim que minha bunda tocou no estofado, o imbecil sentado levantou e saiu.
Filho da puta, desgraçado! Qualquer dia desses eu vou enfiar meu pé na sua cara!
Passei meus olhos pelos documentos e vi um relatório de Kinn, e ele realmente estuda na mesma faculdade que eu.
International Executive Committee, essas palavras estavam em inglês e eu não entendi merda nenhuma.
E eles estão me pedindo para fazer isso? Não me culpem se eu perder algumas páginas.
Eu estava sentado em uma pilha de papéis quando vi que já estava na hora de levar Pheam para casa dele.
O homem saiu do quarto de Kinn e eu o acompanhei até o carro. Eu não sei que brincadeira maluca esses dois idiotas fizeram, mas ele parecia acabado.
Quando chegamos no carro ele sentou no banco de trás e se apoiou na janela, tentando fechar os olhos e descansar. Eu não pude deixar de notar as marcas vermelhas em seus braços e pescoço, eles brigaram?
Durante toda viagem tudo ficou em silêncio, e quando estávamos perto do endereço ele falou.
— Pode me deixar aqui. — Ele disse, e saiu do carro.
Eu estava exausto mas ainda queria me divertir um pouco, será que esse carro tem GPS? Deixa para lá, vou apenas dirigir de volta para a casa.
Quando voltei sentei no sofá e vi alguns bastardos dormindo e outros jogando jogos. Kinn já deveria estar dormindo, porque não tinha nenhum sinal dele. Eu estava muito cansado e queria dormir, mas tenho que esperar até amanhecer para ir em casa, não quero dormir aqui, quem sabe o que eles podem fazer comigo enquanto durmo?
Por que o tempo está passando tão devagar?
Levantei do sofá e fiquei andando pelos cantos até o tempo passar e amanhecer, e sem falar com ninguém eu fui para o meu quarto, peguei minha arma e lavei o rosto. Me dirigi para a garagem para pegar minha moto quando de repente escutei um grito.
— QUEM URINOU NO LAGO KOI ?! — A voz que gritava ecoou pelo jardim, fazendo todos olharem naquela direção. — NÃO! SEBASTIAN! ELIZABETH! — A voz choramingou.
Vi os guarda-costas correrem como um monte de formigas que perderam o caminho, e avistei Pete que corria em minha direção.
— O que está acontecendo, Pete? — Perguntei para ele.
— Eu não sei, alguém deve ter urinado no lago Koi e matado Sebastian e Elizabeth. Tão cedo pela manhã, e eu já estou com dor de cabeça! — Pete disse e eu rapidamente fui embora, subi na moto ligando o motor e indo para casa.
Porra! Esse dia poderia ficar pior?