PORSCHE
— O torneio já acabou? Você tem planos depois disso? — Jom perguntou para mim enquanto eu me sentava preguiçosamente na longa cadeira de madeira do clube de judô. Eu estava descansando enquanto dava a eles um olhar entediado antes dos dois decidirem sentar do meu lado.
— Que cara é essa? Você ganhou, não deveria estar feliz? — Tem disse, levantando o braço e o passando em volta do meu pescoço. Meu olhar permaneceu nele por um tempo, antes de eu soltar um suspiro pela centésima vez hoje.
Eu não esperava que meus sentimentos fossem tão profundos. A mudança repentina na atitude de Kinn me tirou do sério e me fez pensar demais. Eu não queria ser um fracote que fica com pena de si mesmo por algo bobo como esse, mas porra, eu simplismente não consigo evitar mais.
Nós mal conversamos nos últimos dias, e é sempre sobre trabalho ou coisas relacionadas à escola, nada mais. Ele também parou de me irritar sobre como ele sempre queria fazer sexo comigo e de repente, simplismente ficou completamente frio.
E eu não tenho a porra da ideia do porquê.
Fazia dois dias desde que achei um vídeo no celular de Kinn. Ele disse que eu deveria verificar o celular dele em busca de um documento, então eu fui procurar sem saber que eu estaria vendo o álbum do ex dele, com suas memórias de fotos e vídeos juntos.
Naquele momento eu senti meu coração se contrair em um aperto doloroso como se estivesse sendo perfurado por cem agulhas e eu simplesmente não sabia o que dizer ou como reagir.
O Kinn que sempre foi temido por seus homens, e raramente sorria, foi tão facilmente influenciado e parecia tão feliz naquelas fotos. Eu sei que não deveria estar sentindo algo assim, mas por que inferno estou tão irritado? Ele parecia tão despreocupado.
É claro que eu deveria estar irritado. Não deveria?
Tentei ver de uma perspectiva diferente e ser racional, mas merda. Ver ele com o ex, e o fato de que ele manteve aquelas fotos, significa que o amor que eles compartilhavam era muito profundo. Ele ainda confiava muito nele, o que não é diferente de mim. Mas também não era parecido.
Eu podia ver que quando eles estavam juntos, os olhos de Kinn eram deslumbrantes. Cheios de felicidade e compaixão para com a outra pessoa. Mas comigo, ele agia como se houvesse uma grande barreira entre nós. Quanto mais eu tenho que suportar apenas para estar nesse nível?
Tudo que eu sei é que Kinn amava tanto aquele homem que só de ver as memórias que eles compartilhavam, ele ficou abalado.
Mas e eu? Como você me vê, Kinn? Você ainda sente o mesmo que eu? Você se questiona antes de dormir com meu rosto na sua cabeça também?
Eu estava confuso pra caralho e não tinha ideia do que porra é esse sentimento que esta crescendo dentro de mim. Pelo menos me dê uma pista, Kinn, Então eu saberia como lidar com essa merda! Mas, em vez disso, o desgraçado continuou me evitando e se recusou a me ver por dias.
Porra!
Eu estou tão estressado! Por que eu tenho que sofrer sozinho com isso? Isso não vai me levar a lugar nenhum. Eu deveria apenas me concentrar em outras coisas?
Eu estava no meio da minha batalha de crise mental quando minha atenção foi atraída pelo gesto de Tem que estava lambendo vigorosamente um sorvete e de repente, uma lâmpada acendeu na minha cabeça.
— Tem? — Eu sussurrei para o bastardo que estava prestes a levar uma colherada de sorvete na boca. — Você fez “aquilo” como a Jade falou para gente? — Acrescentei em voz baixa, para que só nós dois pudéssemos ouvir.
— Que porra você está falando? — Tem respondeu inconscientemente, antes de ficar vermelho de vergonha de repente.
Meus olhos imediatamente se estreitaram com sua reação e percebi que esse filho da puta estava namorando alguém pelas nossas costas. Eu tento não ficar pressionando muito ele e só esperar ele desembuchar, mas agora as coisas são diferentes e eu preciso desesperadamente da ajuda dele.
— Você fez? — Tentei perguntar a ele novamente, só para ter alguém para tirar essa merda do meu sistema e me dar uma ideia do que diabos Kinn tem feito nos últimos dias.
Foi por que eu o chupei da última vez que transamos? Porra! Isso vai ser humilhante!
— N- não. Ainda não. — Tem me respondeu vagamente, mas estava claro como água que ele estava tentando esconder algo de mim.
— Me diz a porra da verdade seu infeliz. Eu tenho uma coisa para discutir com você. — Eu espreitei minha voz para assustar ele um pouco, mas por que fui eu que fiquei tenso?
Eu apenas afastei o pensamento e perguntei a ele pela terceira vez.
— Você já tentou?
Ele rapidamente balançou a cabeça negando e se recusou a responder. Inclinei minha cabeça para que meu olhar encontrasse o dele, mas Tem continuou evitando contato visual comigo e continuou enfiando o sorvete meio derretido dentro da boca.
— Por que você está me perguntando? — Tem respondeu assim que o sorvete derreteu em sua boca.
Eu fiquei um pouco surpreso com sua resposta, mas de repente o canto da minha boca se ergueu em um sorriso. Esse franguinho vem agindo como se fosse uma garota sendo perguntada sobre sua primeira vez.
— Vocês tão falando do quê? deixa eu participar também! — Jom de repente apareceu do nada e franziu as sobrancelhas, em seguida, olhou alternadamente para a gente.
— Nada. — Tem e eu respondemos em uníssono.
— Tão escondendo segredo de mim agora? Hein? Marquem minhas palavras, esse segredo definitivamente vai vazar por conta própria! — Jom declarou impulsivamente e se levantou da cadeira para ir ao banheiro.
Tem e eu trocamos olhares, antes de respirar fundo ao mesmo tempo. Se nós revelassemos nosso segredinho para Jom, aquele idiota com certeza iria desmaiar. Eu sei que ele disse que pode me aceitar como eu sou, mas essa informação precisava de algum tempo para ser processada.
— Então, ele gostou? — Voltei minha atenção para Tem, que imediatamente abaixou a cabeça, encolhendo os ombros.
— Bom, provavelmente? — Suas orelhas estavam vermelhas de vergonha.
— Você não perguntou?
— Você perguntaria isso para Kinn?
— Não…! — Eu acidentalmente deixei escapar sem pensar, e imediatamente me arrependi quando vi Tem sorrir de orelha a orelha como uma hiena maluca.
— Tem, sua gazela desgraçada! — Eu o xinguei, mas o patife apenas riu em resposta.
— Você é o passivo do Kinn, não é? Hahaha. Você não consegue mentir para mim! — Tem falou em um tom bastante entusiasmado, me deixando sem palavras.
O bastardo continuou me importunando sobre isso por um tempo antes de eu decidir me preparar e ir para o vestiário.
Por que eu estou tão estúpido esses dias? Deus, eu simplesmente não aguento mais!
— Caramba! — Eu exclamei, liberando uma tonelada das minhas frustrações através do xingamento.
— Oii! Calma, Porsche. Será que ele não gostou mesmo? Talvez você só esteja pensando demais, cara! A propósito, faz tempo que eu não vejo ele. Vocês brigaram?
Se eu soubesse a resposta, não estaria aqui fritando meus neurônios.
Suspirei novamente. Ainda não conseguia entender por que caralhos eu estou me sentindo assim. Eu sabia que aquela pessoa era o ex dele. E é natural que algumas pessoas não consigam superar tão fácil alguém que amaram. Mas por que eu estou analisando tanto isso?
O assunto continuou se repetindo em minha mente.
Meu cérebro continuou levando esse assunto ao ponto em que eu queria perguntar diretamente a Kinn se ele ainda amava aquela pessoa. Mas ao mesmo tempo não quero, não tenho o direito.
E nós não passamos apenas de um chefe e seu guarda-costas.
— Você está bem, Porsche? Tem algo que você queira falar sobre? — O tom de Tem mudou de repente, como se ele ouvisse os pensamentos que continuavam se acumulando dentro de mim.
Mas eu apenas sorri amargamente para ele. — Eu vou só trocar de roupa.
Me levantei da cadeira, peguei minha bolsa de esportes e estava prestes a ir ao banheiro sem prestar atenção ao que Tem perguntou. Dei um passo à frente, mas imediatamente me deparei com uma figura familiar;
— Ei! — A pessoa disse quando eu levantei minha cabeça.
Por um momento eu pensei que fosse Kinn por causa do seu físico, mas o cheiro familiar não estava lá.
— Parabéns Porsche, P’Beam me disse que você ganhou. Foi um saco, mas eu não tive a chance de assistir. — Era Vegas, com seu sorriso enganoso novamente.
Eu apenas balancei a cabeça positivamente em resposta e não prestei muita atenção na minha vergonha crescente. Foi bom eu não ter exagerado quando vi sua sombra pensando que ele era Kinn, porque isso definitivamente causaria uma cena.
Mas o que mais me preocupou foi o que aconteceu da última vez. Esse maldito quase me beijou, se Kinn não fosse um idiota possessivo e não tivesse me seguido até aquele bar, eu não quero nem pensar no que poderia ter acontecido.
— Você ia trocar de roupa? — Vegas murmurou, mas eu me senti tão estranho que nem consegui dar um resposta. — Porsche, eu sei que você está com raiva. Mas, por favor, não faça essa cara. Por favor! Por favor, não me odeie.
Vegas falou para mim quase implorando. Mas eu ainda estava mantendo minha posição, sem dar a ele um único olhar. Vegas provavelmente percebeu que eu não ia desistir tão facilmente, então ele tentou um pouco mais dessa vez.
— Eu realmente não tinha a intenção de te ofender, Porsche. Por favor? Eu realmente sinto muito. — Ele caminhou em minha direção, mas meus pés imediatamente recuaram.
Shia! Que porra eu deveria fazer?
Seus olhos demonstravam remorso, mas o que ele disse da última vez dizia o contrário. Ele me convenceu a simplesmente deixar de trabalhar para Kinn para ir trabalhar para ele. Ele até tentou me levar embora e me salvar de quem me atacava ao mesmo tempo. O jeito como ele falava sempre contradizia a maneira como ele agia.
— Está tudo bem. Eu não me lembro mais de qualquer maneira. — Eu falei rapidamente, tentando afastar a atmosfera pesada que pairava sobre nós dois.
— Eu sinto muito, Porsche. — Vegas continuou como se não tivesse ouvido o que eu disse. O bastardo era tão persistente que seu olhar nunca deixou meu rosto.
Que inferno Vegas, o que você quer de mim!?
Incapaz de suportar a atmosfera estranha, tomei a iniciativa de levantar a mão e dei uma chance a Vegas.
— Eu provavelmente deveria ir. — E com isso, deixei Vegas e fui para o banheiro.
Ele não me seguiu nem forçou mais, o que foi um alívio, porque eu ainda não sei como reagir perto dele.
Cheguei no banheiro e consegui vestir minhas roupas normais da universidade. Hoje eu ganhei a competição de judô, mas em vez de comemorar, estou agindo como a porra de um idiota que carrega o mundo o inteiro nas costas. Esse deveria ser um ponto de virada na minha carreira universitária porque aquele torneio era uma rodada de qualificação para um evento de construção de relacionamento em toda a universidade.
Mas aqui estou eu, perdendo meu tempo pensando demais em alguém que nem se importa comigo.
Eu até esperava secretamente que Kinn voltasse ao normal e falasse comigo na academia, mas não tinha nem sinal do desgraçado. Mesmo eu ganhando e P’Beam fazendo um desfile para mim pela universidade, eu não estava muito satisfeito com meu desempenho porque minha mente estava pensando sobre outra coisa.
Faz dias que Kinn decidiu brincar de esconde-esconde comigo. Ele era tão óbvio, sempre que eu entrava em seu quarto, ele fingia que estava jogando no celular, ia tomar o banho noturno irritante dele ou até mesmo descia sozinho para pegar um pouco de comida para ele.
Eu pareço estúpido para você Kinn? Que eu não notaria que você está me evitando?
E ainda por cima, o desgraçado estava saindo para algum lugar sem um único guarda-costas o acompanhando. Se alguém decidir atacar ele de novo, eu não me importo! Esse cabeçudo idiota!
Eu estava chateado pra caralho e ao mesmo tempo preocupado com o que porra Kinn estava fazendo pelas minhas costas. Eu sei, e sempre repito para mim mesmo que somos apenas guarda-costas e chefe, mas por que eu estou agindo assim? A suposição de Big estava certa? Que eu sou apenas um dos seus brinquedos e nada mais? Que ele só me vê como uma brincadeira e só?
Puta que pariu!
— Que porra tem de errado com você? — Eu estava perdido em meus pensamentos quando de repente notei que a minha moto não dava partida, mesmo que eu estivesse tentando há muito tempo.
Ótimo. Simplesmente ótimo!
— Tem algo errado, Porsche? — Vegas de repente apareceu do nada, andando em minha direção com um olhar preocupado em seu rosto.
Desci da moto e me agachei no chão para verificar se havia algo de errado com meu motor. “O que tem de errado com você agora, filho? De todos os momentos, porque ser teimoso logo agora?” Eu falei para mim mesmo antes de que minha atenção fosse atraída por Vegas, que se agachou ao meu lado também.
— Minha bateria provavelmente vai acabar. — Eu dei um palpite antes de digitar o número de Tem para pedir uma ajuda rápida.
Vegas de repente voltou para o carro, mas eu não prestei muita atenção ao que ele estava tentando fazer e apenas esperei que Tem atendesse.
— Onde você tá diabo? — Eu perguntei a Tem, no momento em que a outra linha conectou. Acabamos de nos separar na academia há um tempo. Aquele idiota não teria ido muito longe.
[Na piscina da universidade, por quê?]
— Não me diz que você vai nadar de novo? — Eu perguntei para ele porque está muito frio e se essa anta decidir nadar de novo, provavelmente vai morrer congelado.
[Eu ainda tenho uma corrida amanhã, Porsche. Eu preciso praticar.]
Eu imediatamente suspirei no momento em que ouvi sua resposta. Esse idiota levava a natação muito a sério, não é como se eu estivesse reclamando nem nada. Apenas estou bastante preocupado com a saúde do meu amigo.
— E o Jom?
[Provavelmente já foi embora. Eu vi ele comendo em alguma barraquinha de comida e até pegou um pouco para viagem. Por que você perguntou?]
Revirei os olhos com a resposta de Tem, percebendo que meus dois amigos estavam ocupados demais para me ajudar. E também com o fato de Jom ser a versão totalmente oposta de Tem.
— Nada. Tenho que ir agora. — Desliguei, enquanto olhava preguiçosamente para a minha moto.
O que diabos eu faço com você?
— Porsche, eu já pedi ajuda aos meus homens. Eles vão levar sua moto para uma garagem e consertar. — Vegas declarou, parecia que ele tinha acabado de falar com alguém pelo celular.
— Mas você não precisava, vegas. Eu já liguei para um amigo pedindo ajuda. — Menti para Vegas, embora já soubesse que a porra dos meus amigos estavam ocupados demais para me ajudar.
Só não quero ficar em dívida com ele.
— Eu já combinei com o dono da oficina. Se não tiver mais nada de errado com a sua moto, ela vai estar pronta amanhã. — Ele insistiu como se não fosse aceitar um ‘não’ como resposta.
— Vegas, você realmente não precisa.
— Considere isso como um pedido de desculpas, pela a última vez que te deixei desconfortável. — Vegas rapidamente me cortou, antes mesmo que eu começasse a recusá-lo novamente.
Essa pessoa não sabe quando parar. Ele não consegue entender o que estou tentando dizer, como se não falássemos a mesma língua.
— Você realmente não precisa, Vegas. Eu posso fazer isso sozinho. — Insisti, mesmo sabendo que Vegas ainda ia fazer como ele queria e ignoraria minha decisão.
As pessoas hoje em dia são tão difíceis de entender, tome Kinn e Vegas como exemplo. Parentes! Eu entendi.
— Vamos, Porsche. Deixe o mecânico fazer o trabalho dele. Eu prometo que você não vai se arrepender.
— Mas… — Eu estava prestes a começar um protesto novamente, mas, eventualmente, um pensamento veio à minha mente.
E se Kinn ouvisse sobre esse showzinho com Vegas? Aquele desgraçado definitivamente começaria um tumulto e me acusaria muito. Ele iria ficar bravo. Embora eu esteja bastante curioso para saber que cara ele faria se isso realmente acontecesse.
— Tudo bem então, diga a ele para ter cuidado com meu filho. — Eu acrescentei, e Vegas imediatamente sorriu.
— Então me avise se algo acontecer novamente com a sua moto. Eu vou providenciar tudo. Por enquanto, deixa eu te dar uma carona para casa. — Vegas reiterou e eu imediatamente neguei com a cabeça para recusar.
— Está tudo bem. Eu posso voltar sozinho.
Eu estou completamente ciente de que ele está apenas sendo legal, mas ainda não consegui tirar a cena do carro da minha cabeça. Toda vez que Vegas me oferece algo ou até me dá uma carona, sempre me dá arrepios.
E eu não sei o por quê.
— Porsche, eu sei que eu fiz uma coisa horrível. Mas, por favor, você pode me dar uma chance de provar meu valor para você?
— Está tudo bem, Vegas. Você pode ir agora.
— Porsche, se você continuar agindo assim, eu posso não acreditar no que você disse há pouco. Deixa eu te levar para casa. Prometo que não farei nada com você novamante. — Vegas disse cada palavra com convicção.
— Vegas. — Eu ainda protestei porque me sentia bastante desconfortável por estar sozinho com ele. Mas, no fundo, queria saber como Kinn reagiria se visse eu e Vegas juntos.
— Você me disse que não se importa. Se é assim, posso te levar para casa agora pela minha paz de espírito? Só quero ter certeza de que você não me odeia, Porsche.
Dei um suspiro e olhei para a expressão de Vegas. Esse bastardo já fez muito e até mesmo foi tão longe para conquistar minha confiança, então ir com ele agora não faria mal. Certo?
Além disso, não sei qual os perigos que posso encontrar a essa hora da noite.
— Tudo bem. Mas você não precisa fazer isso da próxima vez, Vegas. — Eu respondi e eventualmente entrei no carro de Vegas. Eu tentei ser casual, mas porra! Eu não conseguia parar de pensar.
E se Kinn ver a gente? O que ele iria fazer? Qual as reações que seu rosto teria? Quais palavras sairiam da sua boca no momento em que nos visse? Principalmente aqueles olhos dele, quão ardentes ficarão se ele me vir com outra pessoa?
Minha mente estava cheia de 'e se' enquanto eu continuava me perguntando. Mas, ao mesmo tempo, eu também não tinha certeza se teria a reação que esperava.
— Direto para a casa principal, certo? — Vegas me perguntou, antes de manobrar o carro.
— Umh.
— Se minha noite for sempre assim, vale a pena ver os engarrafamentos. — Vegas disse e estendeu a mão, pressionando a tela do painel para tocar música dentro do carro.
Eu, por outro lado, estava ocupado olhando alternadamente para o meu celular e para o caminho que estamos seguindo. Ele continuou conversando casualmente comigo e eu só retornei a mesma energia antes de Vegas gradualmente pisar no freio, parando no sinal vermelho.
— Está com fome? — Ele me perguntou.
— Não muito. — Eu respondi, mas o miserável apenas deu um sorriso malicioso.
Ele então aumentou a música um pouco mais alto, começou a cantarolar e bater suavemente no volante. Eu espiei discretamente em sua direção e me perguntei por que fiquei com medo dele da última vez. Ele parecia uma pessoa normal.
— “Mesmo que pareça não haver chance, mesmo que eu tenha que errar mais uma vez. Eu ainda seguirei, porque o amor sempre estará lá…” — Vegas cantou ao som da música com os olhos voltados para o lado de fora do carro.
De repente, senti vontade de rir dentro da minha cabeça quando me lembrei da mesma cena quando estava super puto com Kinn. O desgraçado também tinha colocado uma música e começou a cantar como um um maldito lunático.
Eu estava novamente perdido em meus pensamentos antes de perceber isso. Eu sentia falta de Kinn.
— Você está sorrindo. Você gosta dessa música? — Vegas se virou para mim surpreso, mas seus olhos eram estranhamente deslumbrantes.
Eu apenas dei a ele um sorriso de desculpas e imediatamente virei meu rosto para a janela. Eu ouvi ele rir antes de continuar cantando.
— “Vou derramar meu amor sobre você até que você o aceite. Te dizer que eu te amo até que você desista.” — Ele murmurou, sincronizado com a música que vinha do som do carro.
Desviei meu olhar para meu celular e finalmente e abri as mensagens de Kinn. Estava deserto igual o saara, a última mensagem que eu recebi dele foi a hora em que eu passei mal e adormeci.
Que porra ele está fazendo agora?
Mandei uma mensagem para ele dizendo que estaria na universidade bem cedo de manhã, mas nem recebi resposta.
Estou entediado e frustrado pra caralho!
Uma frase passou pela minha cabeça enquanto eu continuava pensando em Kinn. Esses últimos dias em que não tivemos a chance de ficar juntos sozinhos (de modo íntimo) só me fizeram pensar no que ele me disse antes.
“Eu não gosto de ficar comendo sempre a mesma coisa.”
E com isso, minha mente enlouqueceu. Como se um raio tivesse me atingido na cabeça.
E se ele realmente ficou entediado? Ele ficou entediado e acabou percebendo que me achava estúpido e chato, por isso começou a me evitar.
Puta merda!
Eu estava tão perdido em meus pensamentos que nem percebi que Vegas e eu tínhamos chegado ao portão principal da mansão Anakin. Khun Korn estava na varanda da frente e quando nos viu, ele rapidamente abriu a porta e nos cumprimentou. Vegas então estacionou ao lado, cumprimentando Khun Korn de volta, e apenas ficou no carro.
— Obrigado pela carona. — Eu disse e estava prestes a sair do carro, mas ele me segurou pelo braço para me parar.
— Você pode me adicionar no LINE? — O bastardo disse, e eu dei a ele um olhar curioso. Quando Vegas percebeu que eu fiquei em silêncio, ele então acrescentou: — Então eu vou poder ligar para você assim que sua moto estiver pronta.
A princípio, eu relutei, pensando se ainda era necessário que eu adicionasse ele no meu LINE. Mas se eu fizer um protesto, tudo vai se prolongar e Vegas definitivamente vai continuar me incomodando com isso, então eu peguei o celular dele e digitei minha conta do LINE, devolvendo para ele depois.
— Obrigado. Apenas converse comigo se precisar da minha ajuda. É divertido sair com você, Porsche. — Vegas sorriu para mim e se despediu com um aceno.
Eu acenei de volta, peguei minha mochila e saí do carro dele. Eu estava prestes a entrar na mansão quando me deparei com uma figura familiar. E desta vez, com os sentimentos familiares também.
Fiquei atordoado e minha garganta imediatamente secou quando vi Kinn, que ainda estava com o uniforme da universidade, saindo de seu carro. Ele olhou para o carro de Vegas e então olhou para mim. Nós olhamos um para o outro antes que o desgraçado arrumasse sua postura irritantemente intimidadora e murmurar uma frase.
— Venha até o meu quarto. Precisamos conversar.
A maneira como ele disse as palavras calmamente me deixou inquieto na ponta dos pés. Ele olhou para mim e aqueles olhos eram tão afiados que se pudessem perfurar diretamente através de mim. Eu podia sentir a ansiedade crescendo em mim da mesma forma que a expectativa sobre o que Kinn faria mais tarde.
Eu caminhei para o quarto que eu e meu irmão ocupavamos, então coloquei minha mochila no chão antes de ir direto para o banheiro. Abri a torneira, peguei um punhado de água e joguei no meu rosto. Eu fiquei nisso por um tempo antes de decidir enxugar meu rosto com uma toalha. Fiquei parado na frente do espelho e ainda podia sentir meu corpo tremendo apenas com a visão de Kinn.
Por que caralho eu estou com medo? Eu realmente estou com medo?
Isso é mais uma empolgação, a expectativa de finalmente falarmos sério depois de uma semana de um silêncio gélido.
Afastei o pensamento e não deixei minhas emoções tomarem conta de mim enquanto tentava o meu melhor para não pensar demais nas coisas. Eu respirei fundo e tentei me acalmar mas, porra eu não consigo!
Aquele desgraçado definitivamente me daria uma bronca pelo que viu essa noite. Ou pior. Mas pelo menos, isso significa que ele se importa, não é?
— Hiia. Posso ficar com meus amigos da sexta até o domingo? — No momento em que saí do banheiro, Che disse rapidamente enquanto arrumava suas coisas em uma sacola.
Esse espertinho! Não precisa pedir minha permissão se já estiver fazendo as malas!
— Com quem?
— Meus amigos da escola.
— Ahh. Já faz um bom tempo. — Peguei minha toalha e limpei o canto do meu rosto. — Como você vai pra lá?
— Uhm, você pode me dar uma carona se quiser. — Che disse, gaguejando e não conseguia nem olhar nos meus olhos.
Esse pestinha está escondendo alguma coisa de mim. Não é que eu seja contra ele ter um relacionamento, eu só queria provocar um pouco, antes de deixar ele ir.
— Você não vai. — Eu disse com uma voz bastante séria e como o esperado, meu irmão lançou um olhar aborrecido para mim.
— Ahh! Por que você é assim, Hiia!? Não é como se eu fosse fazer alguma coisa inapropriada quando estiver fora! — Che protestou, pegando um punhado de roupas e estava prestes a jogar em mim, me fazendo rir igual uma hiena.
Por que meu irmãozinho é tão fofo?
— Você tá gostando de alguém? Ou talvez tenha uma namorada? — Eu levantei minhas sobrancelhas e perguntei ao meu irmão com curiosidade.
O meio-metro então fez uma careta como se eu tivesse acertado em cheio.
— E você? Cadê a sua? — Che de repente reagiu, me fazendo engasgar com minha própria saliva.
— Tá bom! Você pode ir, seu diabinho. Manda uma mensagem para mim quando chegar lá. — Eu disse, colocando as mãos nos bolsos laterais da minha calça e acrescentei: — Não engravide ela cedo, eu ainda não tô pronto pra ser tio.
Então eu saí do quarto e subi para o segundo andar. Eu ouvi o protesto do meu irmão atrás de mim, mas eu estava mais preocupado com o que vai acontecer comigo agora.
Eu sei que subir para o quarto dele era como suicídio, e aquele cuzão me daria uma bronca, mas não pude deixar de tremer só de pensar nele fumegando de raiva. As frustrações que guardei durante dias pareceram desaparecer aos poucos, mas foram sobrepostas pelo nervosismo e pela ansiedade.
Chegando no quarto de Kinn, fiquei na frente da sua porta tendo dúvidas por alguns minutos até que respirei fundo. Segurei a maçaneta e no momento em que abri a porta, o cheiro de cigarro atingiu o meu nariz como se ele estivesse fazendo uma fogueira em seu quarto.
Kinn estava de costas, encostado na parede próxima ao lado da sua mesa. O desgraçado abriu uma única janela, na esperança de que a fumaça pudesse escapar do quarto por ela, mas caramba, eu deveria escapar e correr agora.
Ele parecia um assassino.
Kinn deu algumas tragadas em seu cigarro sem me lançar um único olhar e deixou a seda da fumaça permanecer ao lado de seus lábios, a expelindo lentamente. Não sei o que ele estava pensando agora, mas sei que aqueles olhos dele nunca mentiram e queimavam tudo que tocavam, inclusive eu.
— Para onde você foi com Vegas? — Ele disse sua frase com ênfase subjacente e colocou o cigarro no cinzeiro próximo.
Eu fiquei um pouco atordoado, me sentindo um pouco culpado pela cena anterior com Vegas. Kinn então deu uma olhada no meu rosto, antes de voltar imediatamente para a vista do lado de fora da sua janela.
Ele não estava gritando nem algo parecido, era como se não houvesse emoções nessas palavras. E eu estava completamente confuso.
Por que ele não está nem um pouco afetado?
— Eu… — Engoli minha saliva, tentando o meu melhor para continuar o que estava prestes a dizer. Eu sei que deveria estar feliz por ele não ter começado a me atacar, mas por que me sinto estranho?
Eu me sentia sem fôlego como se estivesse sendo estrangulado com aquelas palavras vazias dele. Estava tão indiferente que eu estava ficando com frio.
— O gato comeu a sua língua? — Ele pronunciou silenciosamente. Silencioso demais para mim.
— Minha moto quebrou e Vegas estava lá, então ele me deu uma carona para casa. — Eu respondi no tom mais casual que eu poderia fazer.
— Eu já disse para você, Porsche. Pare de se envolver com Vegas. — Ele respondeu preguiçosamente, como se não se importasse.
Kinn nem se incomodou em me perguntar por que minha moto parou de funcionar ou qualquer outra coisa e apenas continuou evitando meu olhar.
— Vou lhe dizer mais uma vez, Porsche. Pare de andar com Vegas. — Esse filho da puta só se preocupa com Vegas. Ele não se importava comigo.
— Por que? — Eu perguntei com uma voz bastante rígida, mas ele apenas olhou para mim sem expressão.
Eu não tenho ideia do que porra eu deveria sentir. Tudo o que eu sei é que cada ação que ele faz me machuca profundamente. Como um beliscão nas minhas entranhas.
Por que você está sendo tão frio comigo, Kinn?
— Eu disse a você. Se alguém ver você saindo com ele, não vai parecer bom. As pessoas hoje em dia são fáceis de começar um incêndio.
— Essa é a única razão, certo? — Eu perguntei sem fôlego.
Eu queria me xingar por me sentir assim e deixar minhas emoções tomarem conta de mim por causa das expectativas de que talvez de alguma forma ele fosse dar a mínima para mim, mas quem estou tentando enganar? Ele não se importava.
Porra, deixe claro para mim, Kinn, que voce só está me perguntando sobre isso porque está preocupado com Vegas e nada mais.
— Não. — De repente, ele murmurou, me fazendo estremecer com sua resposta.
Kinn olhou para mim, o tipo de olhar que vinha direto no meu peito. Ele jogou o restinho do cigarro no cinzeiro. Eu estava perdido em suas ações e não sabia mais em que merda deveria acreditar.
Antes, quando nós dois ficávamos sozinhos em seu quarto, o desgraçado sempre me agarrava todas as chances que tinha e tirava o máximo de proveito de mim. Mas agora era diferente, pois o Kinn que eu