PRIMEIRO LIVRO
Porsche
Atirei o saco do lixo na lixeira e estava prestes a fumar quando ouvi um estrondo no beco do bar onde trabalho, tinha de cinco à seis homens atacando alguém que estava no chão indefeso, seus punhos e pés batiam nele sem parar.
Virei as costas apertando minha mochila e continuei fumando meu cigarro, fingindo não ver o que estava acontecendo. Já estou familiarizado com isso, esse tipo de coisa sempre acontecia no corredor escuro de trás do bar.
— Que merdinha difícil! — Alguém gritou.
Suspirei andando até a frente as portas do fundo, trancando, já tinha terminado meu trabalho de meio período como garçom e só queria ir para casa.
A está hora, os nossos clientes estavam começando a diminuir, alguns estavam à espera dos seus carros, outros estavam indo atrás de mulheres que ficavam esperando seus clientes na estrada, e uma pequena parcela estava sendo corajosa o suficiente para passar no beco escuro do nosso bar, como o homem que estava sendo espancado.
Embora eu não seja um cara horrível, também não era o tipo de pessoa que se intrometia nos negócios dos outros, não queria me meter com eles, especialmente os que esses estão atrás de mim, que para o meu azar começaram a me xingar, mas eu não me importei.
Só pelo fato desse cara estar apanhando, tenho certeza de que ele fez alguma coisa.
— Me soltem!
Joguei o restinho do cigarro, esticando meu braço dormente, planejando ir embora, olhei para trás mais uma vez para o homem miserável que tentava lutar por sua vida e sacudi minha cabeça.
Estava prestes a pegar na maçaneta da porta quando uma mão trêmula segurou forte a bainha da minha camisa. — Me ajude! — sua voz rouca me chamou.
Quando olhei para baixo, meus olhos encontraram seu rosto coberto de sangue, seu nariz e boca tinham sangue escorrendo, me deixando assustado com o estado do seu rosto, que mesmo com todo aquele sangue parecia muito bonito.
Com a fraca luz do corredor, notei que ele era bem jovem.
— Ei! Venha aqui! — Um dos homens da gangue gritou andando a passos largos, agarrando o homem pelo colarinho da camisa.
Olhei para o homem que pediu ajuda novamente, ele estava em apuros, meu coração apertou e então decidi puxá—lo para trás do meu corpo.
— Calma, irmão. — eu disse calmamente, notei que ele era mais velho por causa do bigode cobrindo seu rosto.
Por que eles estão batendo em uma criança? Se você olhar para o cara que estou segurando o braço, nós temos a mesma idade, e só de olhar para suas roupas, tenho certeza de que ele é rico pra caramba.
Foi quando uma lâmpada acendeu na minha cabeça.
Eu o puxei de volta daquele bastardo e o coloquei atrás de mim, olhei para a gangue na minha frente e eles me olharam de volta perigosamente. — Se você não quer se machucar, pare de ficar no meio e nos devolva o garoto.
Hesitei um pouco antes de responder. — E se eu não tiver afim?
— Estou te avisando, solte—o! — gritou ele.
Percebendo que o que estava acontecendo não era da minha conta, e que eu ainda tenho um irmãozinho me esperando em casa, fiquei sem palavras.
Eu estava em dúvida no que deveria fazer quando me lembrei do rosto machucado do homem, confesso que fui um pouco insensível, como disse antes, eu não sou do tipo que ajuda qualquer um.
A não ser que eu ganhe algo em troca.
— Me ajude e eu vou te recompensar com muito dinheiro. — O homem murmurou perto do meu ouvido, e eu zombei, ele acredita que tudo pode se resolver com dinheiro.
Como ele ousa tentar me comprar assim?
— Quanto? — perguntei.
No fim, é claro que dinheiro pode me comprar em momentos de necessidade.
— Cinquenta mil é o suficiente? —
Com sua pergunta coloquei minha mochila no chão, estalei os nós dos meus dedos fazendo um som de crack e estiquei um pouco meus músculos do pescoço e braços.
Isso seria o suficiente para pagar a taxa de matrícula do meu irmão, é óbvio que eu iria ajudar. — Fechado. Se você voltar atrás com sua palavra eu te mato. — Eu disse antes de ver um dos gângsters pegar um pedaço de madeira e tentar bater na minha cabeça, mas meu reflexo é melhor do que o de todos eles juntos.
Chutei um dos homens na mandíbula, conseguindo o tirar do caminho.
Um a menos.
Outro se aproximou, mas eu fui rápido em dar uma voadora em seu estômago, os outros seguiram seu exemplo, mas ninguém conseguiu pôr as mãos no garoto.
Sendo um campeão de artes marciais desde o colégio, já derrubei muita gente e usei todo meu conhecimento e habilidades para proteger aquela pessoa atrás de mim.
Agora eu que virei o alvo, eles se revezavam para me socar.
Alguns acertaram meu rosto e eu sorri ao sentir o gosto do sangue em minha boca, isso não vai ser o suficiente para me derrubar, seus filhos de uma puta!
Eu conseguia contra—atacar, soco atrás de soco e chute atrás de chute.
Quando finalmente todos os gângsteres estavam caídos e grunhindo no chão, peguei minha mochila e agarrei o maldito garoto que estava sentado perto da lixeira segurando seu estômago. Eu olhei para trás e vi que os gângsteres estavam vindo atrás de nós.
— Onde estamos indo? — perguntou ele, enquanto ainda segurava o estômago.
— Não sei. — respondi, pegando a mão dele colocando ao redor da minha cintura, enquanto ele relutava olhando pra trás vendo os idiotas correrem em nossa direção.
Me certifiquei de que ele estava segurando firme, não posso deixar ele cair e ficar sem pagar pelos meus serviços.
Liguei o motor e acelerei a todo vapor, olhei para trás e alguns ainda nos seguiam, mas nos perderam de vista quando virei na estrada principal.
Acelerei sem olhar para trás, eles podem pegar um carro e nos alcançar se não conseguimos nos afastar o suficiente.
— Obrigado. — A voz rouca disse atrás do meu ouvido e eu senti um arrepio na espinha, consigo sentir sua cabeça pesada em meu ombro, ele deve estar muito machucado.
— Não me agradeça ainda. — Falei olhando para trás pelo espelho da moto, soltando um suspiro quando tenho certeza de que estavamos longe o suficiente e ninguém estava atrás da gente.
— Eles não vão mais nos seguir. Novamente, obrigado. — A figura alta atrás de mim disse, sua cabeça e seu corpo estavam totalmente apoiados em mim.
Tive medo que ele desmaiasse, então segurei suas mãos com minha mão direita, pra ter certeza que ele estava segurando firme e não iria cair.
— Me segure com força ou eu vou morrer. — Sua voz de repente ficou suave e profunda, sem aquele tom rouco.
Senti seus dedos segurarem a barra da minha camisa. — Obrigado. — Ele disse outra vez.
— Cinquenta mil. — Eu disse, olhando—o pelo espelho da moto e ele concordou com dor, ajustando a posição em que se sentava.
— Vamos para minha casa, assim eu posso te dar o dinheiro.
Pensei por um momento.
E se esse garoto for um traficante de drogas ou um membro da máfia? Eu estaria morto antes mesmo de segurar o dinheiro!
— Não fique assim, não estou tentando te enganar para te matar. — Como se estivesse lendo meus pensamentos, o garoto olhou diretamente para o espelho sorrindo para mim.
— Quem me garante?
— Eu pareço um criminoso para você?
— E se você for parente de algum capanga como aqueles bastardos de antes?
— Hehe. — Ele sorriu com uma expressão de dor.
Tô vendo que vou me ferrar.
Falei para ele que iria parar em um posto de gasolina próximo e que ele poderia pegar um táxi para casa.
— Perdi meu celular e minha carteira.
— Ei! Seu mentiroso! Como pôde me enganar? Eu devia te bater até a morte! — Virei meu rosto para ele que ainda estava sentado no banco de trás.
— Oh, você pode ficar com isso, vale muito mais que cinquenta mil. — Ele disse tirando o relógio.
— Como vou saber que não é falso?
— Então devolva. — Inspecionei o relógio e mesmo estando sujo, dava para ver que foi lindamente trabalhado e vendido por pelo menos uns cem mil.
— Okay, pode descer agora, mas se você me enganar, eu vou atrás de você e te como na porrada.
— Espere um pouco, pode me emprestar seu celular? Deixe—me ligar para meu pai.
Okay, agora você pode me chamar de completamente paranóico, e se ele fugir com meu celular?
Mas, a julgar pelo seu estado deplorável, me pergunto se ele pode correr de mim.
— Que incômodo. — murmurei antes de entregar meu celular para ele.
Ele digitou alguns números e logo veio uma resposta do outro lado da linha, ele realmente ligou para o pai, escutei ele pedindo para que alguém viesse buscá—lo onde estamos.
E se eu lhe dissesse que o levaria para o hospital, mas adicionaria mais trinta mil, ele iria aceitar?
— Obrigado outra vez, mesmo que você seja sedento por dinheiro. — Fingi não me importar com o que ele estava dizendo.
Uma pessoa tem que fazer o que for preciso para sobreviver.
— Nós estamos na mesma faculdade, qual seu nome?
— Como você sabe disso?
— Sua camisa.
Percebi estar usando meu uniforme com minha roupa do trabalho que agora estava vermelha.
— Qual seu nome? — Ele respirava com força ficando difícil de falar, eu queria dizer para ele parar de falar e guardar suas forças para esperar sua escolta.
— Por que? Está esperando por eles para me bater? — Levantei uma sobrancelha.
— Não, você não pode apenas me dizer seu nome? — Ele continuou perguntando.
— Por que? Para você escrever na parede e me glorificar?
— Se você não quer, devolva meu relógio e venha comigo para minha casa pegar o dinheiro.
— Jom, meu nome é Jom. — Ele me olhou por um momento antes de virar as costas e ir andando meio vacilante para longe de mim.
Me pergunto quem é ele e o que estava fazendo com aqueles homens, mas apenas dei de ombros, não é mais da minha conta.
Coloquei meu capacete e fui para casa.