Porsche
— Alguém está falando mal de mim, desde ontem a noite não consigo parar de espirrar, shia! — Jom espirrou outra vez colocando sua xícara de café na mesa de mármore, nós estávamos na frente do prédio de Ciência do Esporte, e eu constantemente o olhava pedindo desculpas mentalmente.
Eu fiz algo.
Menti e dei seu nome ao invés do meu para aquele homem ontem, claro que eu não confiaria em um completo estranho tão fácil, especialmente depois do que aconteceu, quem se arriscaria em dar seu verdadeiro nome?
Também peguei seu relógio e o troquei por cem mil, facilmente posso negar meu nome se ele tentar vir atrás de mim.
Lembrei do que ele me disse ontem. "Se algo acontecer com meu relógio, você estará morto."
— O que você está olhando idiota? — Um bastardo perguntou, enquanto sentava ao meu lado e de Jom. Era Tem.
Eles são os únicos amigos que tenho, meus melhores amigos, mesmo eu sendo bonito com um rosto refrescante, não sou do tipo amigável com qualquer um, especialmente com quem não conheço.
Eu mal mostro meus sentimentos e eles já assumem que sou uma pessoa fria, talvez seja por causa da tatuagem japonesa de flores de cerejeira no meu braço esquerdo.
Só esses dois bastardos ficaram do meu lado até agora.
Nós estamos no nosso segundo ano em uma das melhores universidades do país, se não fosse pela bolsa de atleta, cara, eu não estaria estudando aqui.
Eu estudo de graça. Ser campeão de taekwondo e representante da nossa escola, fez minha vida mais fácil para me candidatar a uma bolsa de estudos.
— Se terminarmos nosso trabalho mais cedo, Porsche, podemos visitar o clube? — Jom que mexia em seu celular disse.
— Antes de pensar em beber, me ajude primeiro. — Tem falou, ele estava fazendo tudo sozinho. Por outro lado, eu não quis me meter, não tenho intenção nenhuma de ajudar.
— Bem, quando terminar nós vamos, okay? — Jom não desistiu da ideia de visitar o clube onde trabalho, eles costumam ir para lá se divertir porque são tão próximos da dona quanto eu.
— Okay, nós vamos.
Jom parou de mexer no celular e os dois começaram a trabalhar mais rápido no relatório com Jom perguntando a cada três minutos se nós estávamos terminando.
Quanto a mim, eu fiz o que podia sem colocar muito esforço.
•••
Nós três estavamos sentados de frente para o barman do "The Root Club", o bar da minha chefe. Troquei minha roupa para o uniforme de trabalho, pronto para ficar com eles quando estivesse livre.
— Nong Porsche, alguém pediu para que você preparasse uma bebida. — A mulher tagarela de meia idade me fez sorrir, aceitando o papel fino com o pedido escrito nele e preparo o drink.
Sou bem próximo da minha chefe Jae Jade, uma mulher trans que estava vestida em uma roupa tradicional chinesa de ano novo em diferentes cores que ela usa o tempo todo.
Isso é o que eu realmente quero fazer, me tornar um barman, mas eu ainda tenho um longo caminho pela frente.
Geralmente ganho muita gorjeta, especialmente das clientes femininas, muitas apenas sentam e ficam me olhando durante a noite toda.
Às vezes, eu fico com algumas delas e as levo secretamente para o hotel, mas só quando eu gosto muito da garota.
Por exemplo, essa mulher que estou servindo coquetéis, veio com três amigos. Sem querer me gabar, mas ela continua olhando para mim como se eu fosse uma iguaria.
— Meu nome é Vivi, quando tiver um tempo livre pode me ligar. — Como esperado, ela escreveu seu número em um pedaço de papel e deu para mim. Eu apenas respondi com um pequeno sorriso e coloquei o papel no meu bolso.
— Me pergunto com quantas você vai transar essa noite. — Jom disse enquanto eu caminho e sento minha bunda na cadeira ao seu lado.
— O que? Nem escureceu direito e já tem alguém tentando atacar você? — Jae Jade disse, colocando seu braço ao redor do meu.
Se fosse outra pessoa transgênero ou gay eu teria tido arrepios e ficado com nojo, mas a Jae é diferente, ela é gentil e sempre esteve ali para mim e meu irmão.
Quando fico sem dinheiro para pagar a mensalidade do meu irmão Che, ela é sempre a primeira a oferecer ajuda. Venho trabalhando aqui por anos, mesmo que tenha feito 20 anos dois meses atrás, Jae me deixou trabalhar meio período.
Antes eu era apenas um garoto caseiro, ajudo a manter o clube limpo e arrumado. Depois da escola ajudo a limpar o chão antes do clube abrir e antes de fechar limpo o chão novamente, arrumo as mesas e cadeiras deixando tudo organizado.
Até eu ser promovido e virar garçom, porque Jade disse que os clientes ficariam viciados em mim e na minha boa aparência.
— Sim, Jae, você tem que se preparar, todos os olhos neste clube estão de olho no seu garoto. — O bastardo do Tem disse.
Jae fez biquinho deitando a cabeça no meu ombro, não pude deixar de rir de vergonha, tomando um gole do copo de bebida.
A noite era uma criança e o clube estava começando a encher de clientes, mas eu não estava muito ocupado.
Me lembro do meu pai, ele abriu vários negócios, mas faliu. Ele morreu junto a minha mãe em um acidente de carro, os negócios foram confiscados e o banco nos deixou cheios de dívidas, a única coisa valiosa que meu irmão e eu temos é a casa onde moramos atualmente.
E tem o irmão do meu pai, Athie. Ele ficou viciado em jogos de azar e nos arrastou para suas ruínas.
— Você realmente vai ser o marido da Jae, ein? Nunca te vi com uma namorada. — disse Jom.
— Hehe, eu mal consigo sobreviver sozinho, por que eu iria querer procurar alguém para cuidar? — Eu ri de sua piada besta.
— Você pode encontrar alguém que cuide de você bobinho. — Tem disse, inclinando a cabeça para o lado onde tinha um grupo de homens bonitos sentados no canto. — Eu vi ele te olhando há um bom tempo.
— Quer levar um chute na cara? — Tentei o chutar por baixo da mesa.
— Tanto faz, ele deve estar afim de você, e parem de olhar, estamos ficando óbvios. — Jom disse, e todos tentamos olhar para lugares aleatórios.
— Sim, realmente, você é bonito, se veste bem e tem uma tatuagem legal também. — Tem continuou me provocando, fazendo eu jogar gelo nele.
— Se Porsche fosse gay, e eles acabassem juntos, eles provavelmente teriam um cachorro com a cara da Jae Jade.
Jom riu alto fazendo Jae bater na cabeça dele.
— Ugh, vocês só falam merda. — Ela disse e foi para outra mesa atender os clientes.
— Olhem! Ele não estava olhando para Jae, ele claramente tá muito na sua, Porsche! — Jom exclamou.
Eu olhei para a mesa desconfortável, esse é o tipo de coisa que mais odeio.
Quando homens gays entram no clube e ficam me encarando como se eu fosse um pedaço de carne. Alguns até escrevem seus números e mensagens, falam comigo, me provocam e eu não posso fazer nada. Apenas dou um sorriso, tentando não me importar, eu sei do que eu gosto e eu não sou como eles.
— Olha as marcas que eles estão vestindo, se você dizer sim para ele pode ter uma vida melhor. — Tem disse.
— Se você não parar, eu vou te arrastar para trás do clube e te encher de porrada. — Eu disse suavemente, mas com um tom perigoso na voz.
— Ohoi, só estava brincando! Olha, aquela senhorita que você serviu antes está te chamando, vai lá!
Andei até Vivi que me chamou parecendo querer pedir mais alguma coisa, lhe ofereci um sorriso me inclinando para falar com ela.
— Onde fica o banheiro? — Ela disse tão próxima que nossos rostos estavam quase se tocando, seus dedos acariciavam minha mão em cima da mesa.
— Vá direto por ali e vire a direita. — Apontei para a direção do banheiro, mesmo sabendo o que ela realmente quer, fingi inocência.
— Pode me levar até lá? Estou com medo de me perder.
É isso.
Concordei e fui na frente, e como o esperado a mulher não conseguiu se segurar mais me puxando para um canto escuro do clube ao lado do depósito.
Ela se inclinou para me beijar empurrando meu corpo contra a parede, seus lábios cheios de luxúria estavam me esmagando e apertando ao mesmo tempo.
Aqui nesse canto escuro do clube é bem comum de coisas assim acontecerem, então nem me surpreendi muito, pessoalmente, uso frequentemente esse canto para algumas "atividades extras" durante a noite quando fico com fome.
Minha mão grande apertou seus seios fartos e em seguida levei a outra mão para desfivelar meu cinto e abrir o zíper da calça. Meus pulmões se enchiam de excitação, mas antes que eu conseguisse colocar as calças para baixo escutei um barulho alto de algo quebrando.
— Porsche, venha rápido! Algo muito ruim está acontecendo! — Um garçom novato correu na minha direção, com o rosto aterrorizado.
— O que está acontecendo? — Falei enquanto afivelava o cinto de volta, Vivi arrumava o vestido parecendo confusa.
— Vamos lá!
Corri atrás do meu colega de trabalho, encontrando o clube bagunçado e destruído, mesas e cadeiras reviradas e clientes correndo para fora.
Cacos de vidros e garrafas estavam espalhados pelo chão, tinha mais de 10 homens vestidos de preto se recusando a parar.
Jae tentava negociar, mas eles não pareciam estar se importando, corri até Jae que tinha dois amigos e um funcionário chorando, olhei para o homem na minha frente e rapidamente o reconheci.
Assim que ele me viu correu imediatamente atrás de mim para me atacar, felizmente, meus pés eram mais rápidos que suas mãos, pulando em seu peito o fazendo cair sobre seus pés.
Como eu poderia não reconhecer os homens que lutei noite passada?
Não esperei eles virem atrás de mim, me lancei para frente os dando socos e chutes. Vi meus dois amigos se juntando a briga também, Jae pegou uma cadeira e também veio ajudar, transformando a delicada dama em um bandido perigoso.
— Viemos aqui nos vingar, seu filho da puta! — disse o homem que eu socava o rosto.
— Bom, você é um moleque. — sorri de canto lhe dando outro golpe.
O homem cambaleou um pouco, mas isso não o parou de pegar uma garrafa e quebrar em uma mesa com um sorriso demoníaco no rosto. Ele veio para cima de mim tentando me cortar com aquilo, mas o que ele poderia fazer comigo se sou dez vezes mais rápido que ele? Desviei habilmente o deixando enfurecido.
Ontem, esqueci que eles provavelmente saberiam que trabalho aqui, mas quem não saberia? Eu estava jogando lixo e fechando a porta do clube.
Que estúpido da minha parte, ajudei um idiota e olha no que me meti.
Eu não tenho medo dos bandidos, mas estou com medo por Jae e os outros, especialmente, porque quem vai pagar pelo prejuízo de toda essa comoção sou eu.
— Você é realmente muito bom. — Ele disse tocando sua mandíbula, ele não desistiu mesmo depois de ter levado vários chutes.
— Obrigado pelo elogio. — Eu disse sorrindo.
Tentei chutar sua perna, mas alguém prendeu meus braços por trás me deixando encurralado, porém, continuei confiante de que não vou ser derrotado, posso encontrar um jeito de me livrar dessa situação.
O imbecil sorriu, se aproximando devagar em minha direção com a garrafa quebrada na mão quando de repente…
— Parem! — Uma voz veio da entrada do clube, todo mundo se virou na direção daquela voz familiar.
— Kinn, seu maldito! — Um dos homens amaldiçoou.
Todos os olhos estavam no homem jovem vestido de preto, seu cabelo brilhava nas luzes do clube e seu rosto bonito ainda tinha alguns arranhões da briga de ontem. Seus olhos dispararam em minha direção e ele sorriu.
Ele parece bem melhor agora do que ontem, e tinham algumas pessoas também de preto atrás dele.
— Seu merdinha! — Alguém gritou voltando para mais socos e chutes.
Eu não sei de qual lado estou no momento, porque eu não conheço os recém chegados também, vamos apenas dizer que estou me vingando pelo que fizeram ao clube.
— Senhor Kinn, cuidado! — Me virei para a voz que vinha do subordinado do Kinn, apenas para encontrá-lo cambaleando batendo contra a parede, e em seguida caindo no chão com o rosto cheio de sangue.
Tinham mais de cinco pessoas de pé, todos eles segurando facas, prontos para nos atacar, eu tenho que ficar do lado do Kinn, o relógio que ele deu valia muito mais que cem mil, então eu o devo um pouquinho.
Eu pulei e chutei a pessoa mais próxima fazendo ela derrubar a faca, então peguei outro cara que tinha socado Kinn no rosto e esmaguei sua cabeça na mesa, não me segurei, realmente me irritou ver alguém que salvei ontem com o rosto coberto de sangue outra vez.
Como você se atreve?! Levantei meu pé e chutei o idiota até ele cair no chão.
— Obrigado. — Sua voz rouca veio até meus ouvidos, como se estivesse acariciando meus músculos trêmulos.
Por que ele tem esse efeito em mim?
— Eu nem estou suado. — respondi com um sorriso de canto, então voltei a dar socos outra vez.
Nunca ficaria cansado se fosse para proteger o homem lindo atrás de mim, eu posso fazer isso a noite toda.
— Ei! Por acaso você queimou a casa desses caras? — perguntei para ele.
— São eles que estão me perseguindo. — Ele disse.
Mais homens de preto chegaram e Jae junto aos outros correram para trás do clube, não importa o quão bom você for em artes marciais, se tiver mais de uma dúzia de homens as chances são claras.
Se eu não sair daqui, serei um fantasma pela manhã.
— Vá! — Eu disse para Kinn.
— Para onde eu vou? Estamos cercados. — Ele falou, sem um pingo de medo em sua voz.
Minha cabeça trabalhava rápido pensando em uma rota de fuga, se eu sair agora, essa bagunça vai acabar porque eu sou o alvo, não é a Jae nem o estabelecimento.
Então agarrei Kinn pela cintura e corri com ele para as portas do fundo.
— Onde estamos indo? — Ele perguntou me seguindo.
Eu não lhe respondi, enquanto o puxava para sentar na minha moto, foi sorte eu ter estacionado na parte de trás do clube. E assim como ontem, liguei o motor e sai rápido dali, era como assistir a reprise de um filme.
Déjà vu!
Até passamos pelo mesmo posto de gasolina de ontem.
O quanto ele vai ficar me devendo dessa vez?