Porsche
Eu pilotava minha moto com uma pessoa na garupa que parecia ter perdido metade da vida e estava prestes a ter seu julgamento final.
Do nada meu tio Athie ligou para mim pedindo para buscar ele, depois disso ele não falou nada, não perguntou nada e não respondeu nenhuma das minhas perguntas. Exceto pedir para levá-lo para casa.
— Desça primeiro. — Eu disse em um tom de voz calmo.
Ele me seguiu devagar e franziu a testa quando desliguei o motor empurrando a moto pelo quintal vazio. Então eu dei um jeito de escalar pela parede dando um pulo para conseguir subir.
— O que você está fazendo? — Meu tio perguntou, um pouco confuso antes que estendesse minha mão para ele.
— Shhh! Fique quieto, agora se apresse e suba. — Meu tio pegou minha mão, e eu puxei seu corpo para a beirada da parede antes de pular para o chão o mais leve possível.
— Por que você tem que entrar sorrateiramente na sua própria casa? — Meu tio bufou baixinho, soprando o cabelo.
Sem muita paciência pedi para ele sair de perto do muro. Olhei para os dois lados antes de abrir a porta dos fundos bem devagar para não fazer nenhum barulho, entrando em seguida.
— Ufa! Finalmente consegui sobreviver por mais um dia. — respirei fundo antes de me virar e dar um olhar de reprovação para Athie, que estava atrás de mim indo apertar o interruptor.
— Não ligue a luz! — sussurrei.
— Qual o problema? — Ele perguntou, sem entender.
Com cuidado, andei com um isqueiro até uma vela derretida pela metade depois de ser usada noite passada.
— Não fale alto. — respondi, o que deixou meu tio ainda mais confuso quando tirei um leque da gaveta. — O calor vai passar, não ligue o ar-condicionado!
— Hã? Você não pagou a conta de luz? — Athie perguntou confuso, pegando o leque antes de eu andar até a janela, abrindo um pouco as cortinas. Vi dois homens de preto sentados em motos olhando para dentro da casa.
Porra! Quando eles vão parar?!
Já fazem dois dias que aquele cuzão manda pessoas para me seguir no clube e na minha casa, fazendo eu me sentir um ratinho sendo perseguido. Foi uma coisa boa ter tirado uma folga do trabalho quando Jade disse que alguém sempre ia lá todas as noites perguntar por um cara chamado Jom. Isso fez uma sensação de formigamento subir pela minha espinha, além disso, a palavras de Jade me assustaram mais ainda.
"Qual o problema que o senhor Kinn tem com você? Se apresse, encontre ele e se desculpe. Eu posso te dizer que ele não é uma pessoa comum."
O medo que sinto no fundo do meu coração que tento esconder, cresce um pouco mais a cada dia que passa.
Quando uma gangue de homens procuram por mim em todos os lugares perguntando por Jom, só confirma que Kinn está atrás de mim e não vai me deixar escapar tão fácil.
— Que diabos você fez para ser notado pela máfia, Porsche?! — Athie disse, enquanto andava para perto de mim atrás da cortina, ele olhou para a mesma direção que eu.
— Parece que eu fiz algo, mas o que? O que eu fiz? — Rapidamente mudei de assunto, não me atrevendo a falar sobre o relógio que extorqui, pegando algo valioso de um mafioso até ele vir atrás de mim.
— … — Meu tio sentou no sofá suspirando.
— Oh, você voltou. — cumprimentei meu irmão Che, que estava vestido em uma camisa sem mangas e um short ensopado de suor.
Ele parecia ter corrido uma maratona.
— Oh, Che você está de volta. — Meu tio o cumprimentou também.
— Sim, ei, hoje a noite eu vou dormir na casa de um amigo. — Che respondeu Athie, antes de se virar e olhar frustrado para mim.
— Por quê? — perguntei.
— Eu sou muito preguiçoso para subir um muro para entrar na minha própria casa, o ar-condicionado não pode ser ligado, eletricidade está proibida e eu só posso carregar meu celular. Isso é loucura! Estou perguntando sério, Phi, você está tendo problemas com alguém?
Coloquei minha mão no ombro dele ponderando.
— Liga essa porra! — Eu praguejei o fazendo franzir a testa e afastar minha mão. — E saia pela porta dos fundos. — repeti, ele revirou os olhos e desceu as escadas.
— Porsche, você não está devendo alguém por causa de jogos de apostas, está? — Athie trouxe o assunto de volta.
— Não, claro que não! Não é nada, ah, agora que me lembrei. Qual o seu problema, tio? — perguntei em um tom sério, o vendo sentando nervoso.
— Sou eu que preciso de dinheiro agora.
Estou cansado de escutar o mesmo papo, Athie pede por dinheiro pelo menos dez vezes no ano.
— Não, não tem mais ouro desta vez. Minha mãe vendeu tudo para pagar a dívida. — Eu disse em uma voz branda, indo para a cozinha pegar um copo de água.
— Se você não pode me ajudar desta vez eu não sei o que fazer! — Tio Athie exclamou nervoso.
— Quanto é? — Eu perguntei
— Cinco milhões. — Minha mão que levava o copo até minha boca ficou parada do ar em choque.
— Hã?
— Desta vez não é igual a antes, eles vão me matar! Você tem que me ajudar! — Seu rosto estava cheio de frustração.
— Você é louco! Onde eu vou conseguir esse dinheiro? Esqueça, são a porra de cinco milhões! — Eu disse francamente. — Antes você devia algumas centenas de milhares e apenas isso era o suficiente para te caçarem e te espancarem. Agora é uma quantia absurda o suficiente para comprar tudo dentro desta casa, por que você nunca desiste? Onde está seu bom senso?
— Eu não sei, eu realmente não sei. Você tem que me ajudar. — Athie sentou inquieto no sofá, divagando até ele xingar me assustando. — Droga! A casa foi hipotecada e eles vão pegar em breve.
— O que? A casa foi hipotecada? — pensei por um momento, pelo que sei, a casa do tio Athie já tinha sido confiscada, não?
— Eu estou comendo e dormindo em um cassino, eu saí para te avisar que a casa será confiscada.
— Casa? Qual casa você está se referindo tio? — perguntei surpreso, um alarme foi instalado na boca do meu estômago. Eu já sabia a resposta no momento em que vi a expressão dele mudar olhando para mim arrependido.
— Ah, me desculpe, mas eu realmente não sabia o que fazer. — A resposta fez meus olhos se arregalarem, não queria acreditar no que saia da boca dele.
— O que? Não me diga que é esta casa. — andei até tio Athie querendo uma resposta e no fundo pedindo para que não fosse o que pensei.
— Sim, eu hipotequei a casa, mas eu não pude pagar nem os juros. Se eu não pegar dinheiro em três dias, essa casa vai ser confiscada. — Meu tio respondeu, apertando meus braços com força. Eu quase parei de escutar no fim da frase.
— Mas esta é a minha casa, o último legado dos meus pais, por que você fez isso? — A dor da traição se espalhou como veneno no meu peito.
Rapidamente voltei aos meus sentidos, andei até a gaveta a abrindo. Procurei pelos documentos e o título de propriedade da casa não estava mais lá. Virei minha cabeça olhando meu tio com raiva, meus olhos eram mortais e eu quase não conseguia falar.
Eu tenho 20 anos agora, esta casa é minha. Tio Athie era o guardião dos bens da minha família porque eu era menor de idade. De todas as coisas deixadas pelos meus pais, não tinha mais nada. Apenas essa casa que ele prometeu nunca tocar e deixar para mim e Che, mas o que era isso?
— Por que você está fazendo isso comigo?
— Eu sinto muito. — Ele disse baixinho.
Eu quase enlouqueci de vez, queria bater minha cabeça na parede e acordar desse pesadelo.
Ele é o único parente que eu tenho, ele deveria ser aquele que eu e irmão dependemos para tudo porque ele gerencia todos os bens dos meus pais. Mas ele só nos traz problemas todos os dias.
— Três dias. — Eu disse em um tom calmo, repetindo as palavras do meu tio que a minha casa iria ser tomada em três dias, mas nesses três dias eu tenho que pagar a dívida e resgatar essa casa.
— É muito mais que cinco milhões de bath. — Uma voz alta falou, do lado de fora.
O som alto batendo na porta quebrou o silêncio em casa, meus olhos foram direto para a porta antes de se abrirem em surpresa.
— Shia!
Um grupo de homens vestidos de preto entraram na casa, entre eles uma figura familiar. Ele parecia elegante, suas feições eram tão fortes que eu não sabia como agir.
— Anakinn! — Meu tio gritou, levantando do sofá, encarando o recém chegado tão surpreso quanto eu, porque a pessoa que estou fugindo está bem na minha frente.
Com todos os problemas na minha vida, comecei a pensar no que eu iria fazer daqui para frente.
— Ei, o que está fazendo na minha casa? — perguntei alto, encarando ele.
— O que? Em três dias isso aqui vai ser meu. — Ele respondeu com um sorriso, eu olhei para meu tio que me olhou de volta, acenando em resposta.
Não me diga que meu tio deve a esse imbecil!
— Qual é a comoção? — Che desceu as escadas, franzindo a testa ao ver um homem misterioso parado na nossa casa. — Quem é você?! — Meu irmão gritou surpreso.
— Volte para o seu quarto. — Eu falei, me virando para ele, não estou pronto para dizer a ele o que está acontecendo.
— Por que? Qual o problema? — O teimoso veio apressado e confuso em minha direção.
Quanto a mim, olhei de volta para o rosto de Kinn, que estava parado com as mãos no bolso avaliando calmamente a situação.
— Vá. — Eu gritei alto, Che me olhou cheio de dúvidas.
— Tudo vai ficar bem, certo? — Ele perguntou outra vez.
— Vá para cima por enquanto, eu vou ficar bem. — virei a cabeça para olhar meu irmão com olhos afiados antes que ele subisse as escadas devagar. Esperei o som da porta do quarto fechando ser ouvido para voltar a olhar para o rosto daquele bastardo.
— Uh, isso… — A voz do tio Athi quebrou o silêncio constrangedor, admito que isso me pegou de surpresa. Esse incidente está além de qualquer coisa que eu possa imaginar. — Khun Anakinn, como você chegou aqui?
— Por que? Eu não posso? Esse lugar é metade meu, não?
— Uh, posso pedir por um pouco mais de tempo? — Meu tio perguntou baixo.
— Três dias. — A voz calma respondeu imediatamente. — Cinco milhões, isso se incluir o preço da escritura da propriedade, vão ser seis milhões e duzentos mil baths.
Meu coração apertou quando ele falou daquele jeito, como ele pode falar aquilo com tanto orgulho? Estou tentando ser forte, mas minhas pernas estão tremendo, é quase impossível me mover.
— Mas, senhor Kinn. — Antes que eu pudesse falar, uma mão levantou me impedindo de continuar.
— Eu tenho uma oferta a oferecer. — Sua voz calma disse, fazendo os olhos cheios de esperanças do tio Athi olharem para ele.
— E qual é? Estou disposto a fazer qualquer coisa, enquanto Khun Kinn estiver me dando uma chance. — Meu tio respondeu.
— Você! Trabalhe para mim. — Ele apontou o dedo indicador para mim, me deixando ainda mais confuso que antes.
Trabalhar? Que tipo de trabalho?
— E eu aumentarei o tempo de pagamento para dois anos. — Seus olhos eram calmos, difíceis de ler e me olhavam incessantes.
— Trabalhar? — Meu tio olhou confuso para mim.
— Seja meu guarda-costas, então eu falo com o meu pai sobre a dívida.
Respirei fundo pensando sobre a série de eventos que aconteceram nesses últimos dias. — E quem é você? A pessoa mais importante do mundo? E daí? Você já não tem guarda-costas o suficiente? — perguntei de modo zombeteiro.
Ele é só uma pessoa que não sabe cuidar de si mesmo, guarda-costas minha bunda! Ele acha que está no filme "Operação Xangai"?!
— Fique quieto! — Meu tio gritou para mim.
— Por que? Esse problema é seu, então resolva sozinho! Por que eu tenho que ser arrastado junto com você? — Eu queria muito cortar meu relacionamento com tio Athi, então gritei com raiva.
Como essa responsabilidade veio para mim? Por que meu tio hipotecou a casa e agora quer que eu trabalhe para Kinn? O que eu fiz de errado?
— Então pode dizer adeus a esta casa. — Me preparei para correr em direção a Kinn, mas dois guardas dele me impediram de chegar perto, então eu parei e olhei para ele com raiva. — Agora vai pertencer ao meu pai! — Ele não desistiu, ele sabia que isso iria me provocar, ele falou com um sorriso.
— Vai se foder, Kinn! — A atitude dele estava me irritando, deixando minha paciência no limite.
Eu não deveria ter te salvado! Filho da puta!
— Pare, se você quer a casa de volta. Cale a boca e aceite a oferta dele.
— Mas eu não sou responsável por esse problema! Eu não vou trabalhar por isso!
— Por que? Está com medo? — Kinn estava me provocando com suas palavras.
— Você é Idiota? Quem iria se arriscar a ver sua família que é associada com apostas e mercado ilegal? Ser seu guarda-costas significa que estarei do mesmo lado que vocês, não é? E se eu pudesse escolher com quem trabalhar, por que eu faria algo tão arriscado por você? — A sentença que falei foi provavelmente a mais longa que falei esse ano. Não quero me envolver com algo desse tipo, não vale a pena. Eu estou especificamente preocupado com a segurança do meu irmão, se eu escolher esse caminho, minha vida não será mais calma e feliz.
— Em três dias traga o dinheiro, se não, saiam. — Kinn continuou me ameaçando.
— Filho da puta! — Eu gritei alto para ele, eu sei que minha força não está nas melhores condições agora, mas ainda assim pulei em Kinn tentando o pegar pelo pescoço, mesmo sabendo que seus quatro guarda-costas iriam me parar imediatamente como escudos e me segurarem firme.
— Pare! — Tio Athie tentou me acalmar. — Pare! — Ele me puxou com tanta força que bati contra a parede, eu olhei para meu tio com raiva o xingando sem parar em meu coração, com sentimentos de lamento, raiva e desamparo. Eu o odeio.
Tentei me recompor pensando em maneiras de ter essa casa de volta.
— …
O silêncio tomou conta, todos os olhos dentro da casa olharam para mim antes que eu falasse em uma voz profunda. — Depois disso, se eu quiser ter minha casa de volta, o quanto terei que pagar?
— Quanto? — Kinn virou a cabeça para um de seus subordinados.
— Você não pode me deixar! Se em três dias você não conseguir o dinheiro eu vou morrer! Por que você simplesmente não trabalha para ele? — Meu tio choramingou.
— Eu não ligo! Eu vou ter essa casa de volta! — Eu disse alto.
— Então onde você vai conseguir o dinheiro? — Meu tio perguntou.
— Eu tenho um emprego, eu vou pedir a Time e vou ter essa casa de volta. — A primeira frase eu disse para o meu tio, e a última falei olhando para Kinn.
— Enfim…
— E sobre mim? E a minha dívida?! — A voz do tio Athie estava alta, ele correu em minha direção agarrando meu braço, balançando meu corpo.
Eu vou conseguir dinheiro e ter minha casa de volta.
— Eu não quero me envolver nesse mundo! Estou preocupado com a segurança do meu irmão! — Eu gritei, antes de respirar fundo, passei por meu tio me aproximando de Kinn outra vez, seus guardas vieram para a frente me bloqueando como sempre, então eu parei e ordenei que ele fosse embora. — Eu definitivamente vou precisar de tempo para juntar o dinheiro ainda esse ano, mas vou conseguir ter minha casa.
— Onde você vai morar durante esse tempo?! — Meu tio gritou.
— Eu posso sobreviver! — inclinei minha cabeça para responder meu tio, que parecia ter começado a enlouquecer.
Enquanto eu estiver juntando dinheiro para a casa, vou alugar um apartamento com Jade, pelo menos vai ser dinheiro suficiente salvo de pouco em pouco.
— Isso é com você, mas a dívida de cinco milhões deve ser paga em três dias. — Kinn murmurou antes de sair da casa.
Assim que o homem de preto desapareceu, as coisas da minha casa foram jogadas no chão pelo meu tio como uma pessoa louca.
— O que você está fazendo?! Três dias, se em três dias eu não tiver o dinheiro eu vou morrer! Você sabe disso! Eles vão me caçar e me matar!
— Ah, sobre isso, você vai conseguir se virar. Por que eu deveria te ajudar? Eu amo minha vida, eu amo a vida do meu irmão também! — gritei.
— Se eu morrer, a culpa é sua! — Tio Athie gritou com raiva.
— A razão de eu ser desse jeito não é sua? Você é egoísta, só pensa em você mesmo! Todos os bens dos meus pais foram vendidos e agora você quer me usar de substituto para pagar suas dívidas? Minha vida não vale nada aos seus olhos? — Eu continuo em pé discutindo com ele, seus olhos raivosos continuavam a me encarar, eu nunca mais irei ceder para ele outra vez, não depois dele ter pegado nossas propriedades, incluindo essa casa.
Como ele pôde ter coração para penhorar o último tesouro dos meus pais? No fim, a casa que deveria ser minha, vai desaparecer em um piscar de olhos.
— Você pode me amaldiçoar por ser egoísta, porra! Faça isso! Mas você nunca pensou na minha segurança? O irmão do seu pai que cuidou e olhou por todo o legado dos seus pais? Você não lembra quando estava no fundamental eu era aquele que cuidava de você?
Todas as coisas boas que meu tio disse, me fez apertar os punhos. Embora eu não negue que meu tio fosse bom comigo no início, o que ele está fazendo comigo e Che agora é muito sério.
Eu fiquei trêmulo pensando em tudo que ele disse por um momento. Eu vou desistir? Aceitar um trabalho que parece desonesto e me colocar em perigo? Deveria fazer isso para salvar um parente e sacrificar a segurança do meu irmão? Ou eu deveria…
— Não faça isso, Phi. Ei, não faça! — Eu levantei minha cabeça quando escutei aquela voz, Che desceu as escadas, andou em minha direção e me abraçou com força.
Quando vi meu irmão, meu coração ficou apertado, por pouco contive minhas fraquezas. Eu fechei minha boca com força, prendendo meus sentimentos no fundo do meu coração, levantei a mão e levemente afaguei a cabeça do meu irmão, Che provavelmente escutou tudo escondido e já estava sabendo sobre isso.
— Por favor, não trabalhe desse jeito, com quem eu vou morar? — Ele disse em uma voz trêmula.
Essa é a principal razão de que eu nunca vou me render facilmente para qualquer um. Eu jamais deixarei meu irmão sozinho, sua vida era solitária o suficiente e eu farei o que for possível para protegê-lo, porque eu o amo mais que minha própria vida. — Não precisamos de uma casa, eu não me importo onde moramos, mas não me deixe. — Che me abraçou apertado, como se estivesse com medo que eu desaparecesse.
— Eu sei…
— Me escute, quando você estava no fundamental você chutava e batia nos outros com frequência, mas, olha, você continua vivo. Do que você tem medo? — O lixo humano interrompeu.
Eu não acho que quero contar essa pessoa como meu parente.
Meus olhos encararam ele desacreditado de que esse homem é irmão do meu pai, com o amor do meu pai por mim e Che, ele nunca seria capaz de dizer essas palavras.
Eu lembro do dia que Kinn estava sendo caçado por pessoas com facas e outras armas, e aquela situação não era uma situação para uma criança como eu estar.
Bater e chutar todo mundo pode fazer isso, mas se eu colocar minha vida na reta e me arriscar envolver a única pessoa que amo em todo o mundo nessa situação, eu não faria!
Che e eu pegamos algumas coisas da casa e fomos para casa de Tem, esta noite, não posso ficar na mesma casa que aquela pessoa. Eu não consigo mais o respeitar como tio, ele fez uma bagunça, não parou de falar e continuou tentando me convencer a aceitar o trabalho.
Eu estava com medo de não conseguir me segurar e socar a cara dele.
— Beba isso primeiro. — Tem me ofereceu um copo de água.
As duas pessoas sentadas na frente dele a essa hora pareciam estressadas e não queriam conversar.
— Obrigado.
— O que aconteceu? — Tem perguntou com um rosto preocupado.
— Me desculpe por te incomodar. — Eu disse, meus olhos vagaram para a varanda, mas eu não consegui encontrar nada no que focar.
— O que te incomoda, meu amigo? Todo esse tempo eu só estava esperando para dizer, o que posso fazer por você?
Eu virei minha cabeça para olhar para os olhos e o rosto bonito do meu amigo que sorria levemente, segurando meus ombros em encorajamento antes de eu começar a contar para ele o que tinha acontecido.
— Minha casa foi confiscada.
— An? O que aconteceu? — Seu rosto estava surpreso, ele me perguntou em voz baixa.
— Meu tio perdeu em uma aposta. — Quase não consegui responder, não quero mencionar ou pensar naquela pessoa.
— Nossa, amigo, eu não consigo acreditar. Mas eu conheço muito bem o histórico do seu tio, então você não tem que me explicar muito sobre isso, mas o que aconteceu? O que você vai fazer?
Balancei minha cabeça ao invés de responder, eu sei que não vou conseguir juntar dinheiro a tempo e eu não sei o que fazer daqui em diante.
— Eu vou te incomodar apenas por essa noite, eu vou pra casa de um amigo amanhã. — Eu falei.
— Você pode ficar aqui comigo. — Tem disse em uma voz deprimida.
— Obrigado, mas amanhã eu vou ver um amigo. Eu já falei com ele sobre procurar um dormitório, vou encontrar com ele assim que possível, mas enquanto isso.
— Porra! Você não tem que falar desse jeito! Você pode ficar aqui, eu estou à sua disposição, Porsche. — Tem disse, não importa o quão ruim minha vida tenha se tornado, estou agradecido que ainda existam pessoas boas ao meu redor.
— Muito obrigado. — Eu disse em voz baixa.
— Você tem entrado em contato com Jom?
— Primeiro eu estava indo pra casa dele, mas ele não me atendeu. Talvez esteja dormindo.
— Sobre ele, desde a noite passada ele não responde minhas ligações, eu me pergunto se ele tem uma nova namorada.
— Você está indo tomar um banho? Essa noite vocês dois podem dormir na cama, eu durmo no sofá.
— Por que ser tão duro consigo mesmo? Che, durma com o Tem, eu durmo no sofá. — Os dois concordaram.
Hoje eu estou muito cansado, meus problemas não acabaram e minha casa foi confiscada, minha vida virou de cabeça para baixo.
De toda forma, amanhã eu tenho que ir trabalhar como o usual para ganhar dinheiro e conseguir ter minha casa.
•••
NO OUTRO DIA
•••
— Merda, qual o problema dele? — Tem reclamava, conforme ligava repetidas vezes. Hoje, Jom tinha sumido o dia inteiro.
Não, desde ontem ninguém conseguiu falar com ele.
Até o fim das aulas, já era o fim do dia e nada de sinal dele, normalmente se ele estivesse doente ou incapaz de vir para aula, no mínimo ele mandaria uma mensagem no nosso grupo no LINE. Mas agora ele simplesmente desapareceu, como se tivesse sido engolido pela terra.
Tem e eu decidimos desistir e ignorar, então eu voltei para os dormitórios e procurei na internet informações sobre lugares baratos por perto, alguns pareciam bons e acessíveis, mas antes disso eu preciso ver a Jade.
— De novo não, meu clube não deveria acabar parecendo desse jeito!
Assim que minha moto estacionou, uma voz familiar de um cara estranho soou tão alto que eu tive que virar rápido olhando em surpresa. Meus pés correram apressados para dentro.
— Jade! O que aconteceu? — gritei alto, vendo o clube em um estado péssimo como se tivesse acabado de ter uma guerra ali. Mesas e cadeiras estavam jogadas e garrafas quebradas espalhadas no chão. Vi uma figura sentada no chão em lágrimas lamentando.
— Porsche!! Nós temos que conversar! — A voz áspera de antes gritou, me deixando boquiaberto.
Normalmente, a voz da Jade soaria como a de uma garota fofa, mas hoje ela deixou sua verdadeira voz sair.
Era como um homem usando o vestido da esposa, ela se aproximou de mim e me puxou para o escritório.
"Meu deus! O que é isso agora?" pensei.
— Ahh! Eu vou enlouquecer se for assim todos os dias! — Jade gritou, batendo a cabeça na parede.
Tive que cobrir minhas orelhas com as mãos. — O que aconteceu? — perguntei em tom de voz pausado.
— Com quem você tem problemas? E o que você fez?! — Jade nunca falou severamente comigo antes, mas hoje ela estava discutindo comigo, o que me deixou em choque.
Ela segurava firme em meu ombro.
— O que eu fiz? — perguntei, pensando do que se tratava tudo isso.
Tirando a parte que fiquei dois dias ausente, não fiz nada de errado para causar problemas. Jade olhou para mim mais calma me soltando.
— Eu te disse para não se meter em problemas, não disse? — Sua segunda voz voltou enquanto ela limpava as lágrimas com um lenço de estampa chinesa.
— Eu não fiz nada, Jade!
— Teu rabo! O que você está fazendo com Khun Kinn?! — Eu fiquei ainda mais chocado quando ouvi o nome dele.
Sim, eu tenho um problema com Kinn, sobre a casa, mas os cinco milhões não eram por minha causa.
— Hoje, quando abri o clube, Khun Kinn e seus guardas perguntaram se uma pessoa chamada Porsche ainda trabalhava aqui. Quando Che disse que sim, eles jogaram as coisas pelo ar, tudo tinha acabado de ser reparado, agora está tudo quebrado de novo. Porra, Porsche! O que você vai fazer?!
Depois das duas primeiras sentenças a voz dela foi ficando cada vez mais severa, a última sentença me deixou incapaz de controlar minha raiva. O que Jade me disse estava me deixando a ponto de enlouquecer.
— Eu não fiz nada! — respondi para ela.
— Você pode ir embora? Eles me deram um ultimato. Se eu não demitir você, o clube vai ficar um caos todos os dias! — Ela disse.
Merda! Que caralho!
— Espera, Jade, o que é tudo isso? — O eu, que raramente mostra emoções, está com os olhos marejados agora.
— Eu tenho que te pedir um favor… Porsche, você pode sair do clube por mim? — O rosto dela não estava bravo como antes, mas ansioso.
— Eu não posso, por favor, não me expulse. — Absolutamente não, onde eu vou encontrar dinheiro para resgatar minha casa?
Porra, Kinn! Por que você está fazendo isso comigo?!
— Mas eu não posso concertar o clube. — Pequenas gotas de lágrimas rolaram por seu rosto.
— Mas, Jade, você não pode me demitir. Onde eu vou conseguir dinheiro? — Eu disse honestamente, minha voz mais baixa que um sussurro.
— Eu tenho problemas financeiros também, ainda não sei onde encontrar dinheiro para reparar tudo desta vez.
Olhei para o clube atrás do vidro e vi a confusão que tudo se encontrava, e também tinha os funcionários que estavam morrendo de medo por não estarem seguros.
— Eu realmente não fiz nada desta vez. — respirei fundo, mesmo que eu tenha certeza de não ter feito nada de errado com o Kinn, só de olhar para o rosto da Jade eu me sinto culpado por tudo isso.
— Porsche, por favor, vá embora.
— … — olhei para o rosto de Jade. Neste momento eu me sinto extremamente triste, tudo que vejo é uma história irritante durante esses dois últimos dias, agora, eu me sinto como um nada, me perdendo sem saber como lidar com essas emoções.
— Não olhe para mim assim, Jade ama o Porsche, mas agora, nós temos que nos colocar em primeiro lugar.
Acho que já entendi tudo, eu causei a destruição do clube duas vezes, eu não posso julgar Jade, se ela realmente decidir me demitir.
— Do que você precisa? Estou pronta pra te ajudar com qualquer coisa, menos dinheiro, porque agora eu realmente não posso.
— Jade, você pode me ajudar a conseguir emprego no bar do P'Q?
— O bar da rua do lado?
— Sim, eu posso trabalhar imediatamente, realmente preciso do dinheiro.
— Tem certeza que eles não vão te seguir e destruir tudo por lá? — Jade perguntou, e eu disse que eu não tenho certeza. Coloquei minha mão na testa massageando tentando pensar em um jeito de sair disso.
— Okay, espere um pouco. — Jade pressionou o celular antes de andar para fora para falar, eu sei quão irritada ela está, mas quando ela me pediu para ir embora, mas ainda assim me ajudou a encontrar um novo emprego sem mais perguntas, me fez lembrar que Jade ainda me ama.
— Tudo bem, venha, você começa essa noite. — Jade veio e me disse com detalhes, Jade disse a P'Q que ela estaria fechando o clube por um tempo, mas tinha um probleminha, então perguntei a ela se não poderia me ajudar indo trabalhar no bar do amigo dela por enquanto.
— Então, antes que eu vá, você quer que eu faça algo?
— Não precisa, é melhor você ir. Q está te esperando. — Eu concordei, andei para fora do clube e fui direto para o novo bar.
Não posso esperar o tempo passar. Tenho que me apressar e trabalhar para conseguir dinheiro, meu fardo é muito pesado para ficar sentado sem fazer nada. Posso assumir que tudo isso pode não ser nada e eu estou entendendo errado?
A pessoa que veio atrás de Jade provavelmente eram mesmo os gangsters daquela noite que continuavam putos atrás de mim.
•••
A primeira noite no bar do P'Q passou com tudo normal e feliz. Eu tinha bem mais clientes que no clube da Jade, o que me deixou mais cansado que o usual, eu tenho que me acostumar com isso e me ajustar, aprender esse trabalho e me tornar um novo funcionário não é fácil.
Nunca é fácil para mim, o que está acontecendo comigo agora é minha culpa. Não posso culpar ninguém por isso.
Já na casa de Tem, estava colocando o código na porta da frente, quando vi uma figura na casa ao lado colocando o código errado.
— O que você tá olhando? — Um homem virou para mim com olhar cortante. Eu não tinha olhado de propósito, mas reparei que ele mexia na porta da frente.
Meus olhos estão perfeitamente bem, é claro que eu pude ver o que ele estava fazendo.
— Porra! — xinguei olhando para ele. Ele também olhou para mim e antes de começarmos uma briga, a mulher mandou o marido para dentro.
O que eu estava fazendo? Eu apenas coloquei o código e entrei na casa do meu amigo.
Entrei no do